segunda-feira, 29 de junho de 2009

O que sinto em pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Gente, olha que legal este texto...Salve para todos!!

Cortázar na escola

JOSÉ CASTELLO

Aos onze anos de idade, tonto como se viajasse em um barco desgovernado, li pela primeira vez, em sala de aula, “O navio negreiro”, de Castro Alves. Fui um menino silencioso; as palavras me ameaçavam.

No colégio, eu as sentia como algemas, que me acorrentavam ao que eu não era. Foi, portanto, um golpe quando li o grande poema. Em poucos minutos, entendi que as palavras não são algemas, mas chaves.

Nas mesas ao lado, via meus colegas distraídos, em brincadeiras dispersas, incapazes de se concentrar nos versos. Enquanto isso, meus nervos faiscavam. De noite, já em meu quarto — com a porta trancada, como se fizesse algo proibido — reli o poema. Naquela madrugada, tive uma febre sem explicação, que meus pais diagnosticaram como uma virose. Mas o vírus que me possuía era outro: a poesia se infiltrara em meu sangue.

Aborreço o leitor com essa breve lembrança infantil porque ela retornou inteira, e com a mesma densidade, enquanto lia “Discurso do urso”, brevíssimo relato das “Histórias de cronópios e de famas”, livro que Cortázar publicou em 1962. Agora em uma delicada edição para crianças, com ilustrações comoventes do artista espanhol Emilio Urberuaga (Record, tradução de Leo Cunha).

Não, não se trata de “literatura infantojuvenil”; não é um conto “para crianças”, mas, sim, oferecido às crianças. Dizia Cortázar que ninguém se torna um escritor sem conservar a porosidade que define a infância. Crianças estão sempre disponíveis para a dissonância e o arrebatamento.

Atitude que resume o que ele chamava de “fantástico”: não o absurdo, ou o monstruoso, mas a capacidade de manter-se, sempre, um pouco deslocado, aberto aos desvios, às idéias inconvenientes e aos golpes da fantasia.

“Há pessoas que, quando isso acontece, quando se deslocam um pouco, ficam inquietas e sentem vertigens”, Cortázar disse em famosa entrevista a Ernesto Bermejo (Jorge Zahar Editor, 2002). Em nós, adultos, a ansiedade surge sempre que percebemos que a vida se move por um sistema de leis anterior àqueles que aceitamos. Quando se evidencia que outras lógicas, menos civilizadas e menos lógicas, movem o mundo.

Assim são as crianças: se não as massacramos com os bons modos e a boa educação, permanecem atentas aos deslocamentos, inversões e sustos que, no fim, definem a arte.

Não é, portanto, uma surpresa que os relatos de Cortázar possam ser lidos, também, por crianças.

Ele mesmo dizia que, no fundamento de sua vocação de escritor, estava uma leitura precoce (e decisiva) do “Peter Pan”, de James M. Barrie. No caso dos escritores, a hipótese de uma criança que se recusa a crescer não é só uma possibilidade fantasiosa, é uma pré-condição.

É claro, escritores amadurecem — deixam de esperar, como as crianças, que a solução venha sempre de fora. Alguns se permitem, enfim, adotar essa via de contramão que, por hábito intelectual, chamamos de literatura. Mas a palavra parece pequena demais.

Na mesma tarde em que li o “Discurso do urso”, uma amiga, Eva, me enviou o conhecido vídeo em que Maya Tamir, pianista de 8 anos, acompanhada pela Filarmônica de Israel, interpreta uma peça de Hayden. Uma experiência assombrosa, que repassei para alguns amigos. Um deles, Romildo, me respondeu com uma pergunta crucial: será que para a pequena Maya tocar piano é algo equivalente a brincar? A ele, parecia que não; e a mim também. O piano, para Maya Tamir, não é só um divertimento; é algo bem mais sério, que se relaciona com o amor e a verdade.

Voltei, muitas vezes, à interpretação de Maya e, a cada vez, mais me convenço de há ali — quando ela se agarra a seu piano como a uma fome — algo que ultrapassa qualquer brincadeira. Como continuar acreditando, então, nesse placebo que chamam de “literatura infanto-juvenil”? Penso em Charles Perrault, nos irmãos Grimm, penso em Lygia Bojunga Nunes, escritores maiúsculos, simplesmente, que estou sempre a reler. Aos 11 anos, quando li Castro Alves, senti o mesmo tremor que experimentei quando, aos 40, li pela primeira vez o Fausto, de Goethe.

A arte é indiferente ao tempo. Não se relaciona com o desenvolvimento — palavra sagrada para os realistas —, mas com o assombro.

Bruno Bettelheim já nos mostrou o quanto há de grave nos sentimentos das crianças que, ainda em seu berço, escutam os primeiros contos de fadas. Só as crianças? Há poucas semanas, li para minha mãe — que está idosa e doente — o “Barba azul”, de Charles Perrault. Em vários momentos, me perguntei se devia mesmo prosseguir, tão fortes eram as expressões de espanto e de comoção que a agitavam. Ao fim do relato, desmentindo meus temores e imitando as crianças, ela me pediu: “Você podia ler de novo?” Oferecer Cortázar às crianças é, portanto, mais que uma prova de amor: é uma demonstração de que as levamos a sério.

A história do urso que passeia pelos canos da casa, sobe à noite até a chaminé para admirar a lua e desafia esses homens realistas que ignoram as entranhas do mundo, provoca em qualquer leitor — adulto, ou criança — o mesmo abalo. Ou não provoca nada, e isso fica por conta da indiferença de quem a lê.

Dizia Cortázar que, ao contrário do que supomos, as crianças são muito lógicas, não apreciam as incertezas e querem as coisas sempre muito bem explicadas.

Ocorre que, ao contrário de nós, elas estão abertas a outras formas de certeza e a outros sistemas de verdade.

Ser exigente não é o mesmo que ser ortodoxo.

O verdadeiro rigor não está no pensamento que se petrifica, mas naquele que, conservando a fluidez e a leveza, acaricia as bordas da existência.

É porque levam tudo muito a sério que as crianças se desinteressam rapidamente pelas coisas que lhes parecem fabricadas, ou artificiais. Também para Cortázar o fantástico era apenas o impossível tomado a sério. Quando lhe pediam que o definisse, costumava recorrer à sábia piada segundo a qual a poesia é “o que resta depois de definida a poesia”. Único recurso que temos para definir a própria literatura — que não passa daquilo que sobra depois que a massacramos com nossas superstições e miseráveis ilusões.

O Globo, 6 jun. 2009. Caderno Prosa & Verso.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Resumo: Incidente em Antares

INCIDENTE EM ANTARES - Érico Veríssimo - Resumo

Extraído de estudo e resumo do professor Teotônio Marques Filho
saite http://www.jayrus.art.br

Primeira parte: Antares

A bem dizer, Antares é uma cidadezinha perdida no mapa do Rio Grande do Sul, às margens do rio Uruguai, “na fronteira do Brasil com a Argentina”. Essa cidadezinha será palco, em 1963, numa sexta-feira, de “um drama talvez inédito nos anais da espécie humana” (p. 3).
A origem de Antares remonta há muitos anos atrás, conforme reza um relato do naturalista francês Gaston Gontran, em seu livro Voyage Pittoresque au Sud du Brésil (1830-1831). Deslumbrado com a beleza do lugar, o naturalista mostra a seu hospedeiro, Francisco Vacariano a estrela Antares. “É um bonito nome para um povoado” (p. 6). E em 1853, quando o povoado é elevado à categoria de vila, Antares substituirá o nome primitivo “Povinho da Caveira”. Para muitos, entretanto, Antares significava “lugar das antas” (p.9).
Senhor absoluto da cidadezinha até então, Chico Vacariano é ameaçado no seu reinado por Anacleto Campolargo, “criador de gado e homem de posses” (p.10), que passa a disputar com o pioneiro (Chivo Vacariano) o domínio daquele feudo. Há lutas de mortes e o ódio se estabelece entre os dois clãs por gerações sucessivas, com atos de violência e atrocidades inimagináveis. A rivalidade entre as duas dinastias durou “quase sete decênios, com períodos de maior ou menos intensidade” (p. 11).
A década de 20 trouxe para Antares muito progresso, tanto na ordem material como intelectual” (p. 29), e a cidade “até então um município exclusivamente agropastoril, começava auspiciosamente a industrializar-se. O telégrafo, o cinema, os jornais e revistas que vinham de fora, a estrada de ferro e, depois de 1925, o rádio – contribuíram decisivamente para aproximar o mundo de Antares ou vice-versa (p. 29).
A rivalidade, contudo, entre os dois clãs (Vacariano X Campolargo) domina a cidade a política local. Após um período de turbulência e atrocidades engendradas por Xisto Vacariano e Benjamin Campolargo, chega à cidade de Antares, com a missão de estabelecer a paz entre as duas famílias beligerantes, “um membro da prestigiosa família Vargas, de São Borja” (p. 33): era Getúlio Vargas, a essa época, deputado federal. Usando de artimanhas, Getúlio consegue aproximar os dois chefes políticos, ponderando: “Os amigos hão de concordar em que os tempos estão mudando. O mundo se encontra diante da porteira duma nova Era. Essas rivalidades entre maragatos e republicanos serão um dia coisas do passado. Precisamos pacificar definitivamente o Rio Grande para podermos enfrentar unidos o que vem por aí...” (p. 35).
Os dois velhos próceres, agora apaziguados serão substituídos por Zózimo Campolargo, casado com D. Quitéria (D. Quita) e Tibério Vacariano, casado com D. Briolanja (D. Lanja). De boa paz e meio indolente, Zózimo “era um homem sem nenhuma vocação para liderança” (p. 38). Dessa forma, a chefia política da cidade acaba sendo assumida por Tibério e D. Quita, “criatura enérgica e inteligente, senhora de razoáveis leituras, e até duma certa astúcia política” (p. 38). D. Quita, pois, diante da indolência do marido, acaba-se tornando a “eminência parda, o poder por trás do trono”. Com o “tratado de paz” entre as duas famílias, engendrado por Getúlio, uma grande amizade é cultivava entre os dois casais.
Com a ascensão política de Getúlio Vargas, que inaugura o Estado Novo no Brasil, Tibério se estabelece no Rio de Janeiro e vai-se enriquecendo através de negociatas e atividades escusas. “Além de advocacia administrativa, ganhava dinheiro em transações imobiliárias e ocasionalmente no câmbio negro. A Segunda Guerra Mundial proporcionou-lhe oportunidades para bons negócios, uns lícitos, outros ilícitos. Habituara-se a viver à sócios, e para si mesmo. E, como tantos de seus pares, já possuía, num banco de Zurique, uma conta corrente numerada, cada vez mais gorda em dólares” (p. 48).
Com o fim do Estado Novo e a que da de Getúlio Vargas, incompatibiliza-se com ele e volta para Antares, onde vai consolidando o seu império: atrai para a região uma empresa de óleos comestíveis de Mr. Chang Ling, a qual se alimentava da soja de sua produção: era a “Cia. De Óleos Sol do Pampa, da qual Tibério Vacariano possuía 500 ações que não lhe aviam custado um vintém” (p. 65). Por outro lado, dando vazão aos seus instintos de garanhão constitui outra família, envolvendo-se com a exuberante Cleo, que passa a ser sua “teúda e manteúda”.
Após as marchas e contramarchas da política nacional, em que tem lugar o governo do Presidente Dutra, Getúlio Vargas retorna triunfante, em 1951, agora “nos braços do povo”. É um período de turbulência política, em que a UDN de Carlos Lacerda combate tenazmente “o pai dos pobres”. O atentado a Lacerda, em 1954, ao que tudo indica comandado por Gregório Fortunato (escudeiro do Presidente) precipita a queda de Getúlio, que tenta resistir: “Daqui só saio morto. Estou muito velho para ser desmoralizado e já não tenho razões para temer a morte” (p. 80).
O suicídio, a forma honrosa encontrada pelo Presidente para “sair da vida e entrar na História”, desperta no país profunda comoção popular. Pressionado e abandonado, ao morrer, Getúlio escreveu: “À sanha de meus inimigos deixo o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que desejava”. A sua carta-testamento, redigida em estilo grandiloqüente, confere grandeza à sua morte: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram o meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo na caminhada da eternidade e saio da vida para entrar na História” (p. 90).
Os acontecimentos políticos são acompanhadas com atenção em Antares: cada vez que a sirena de “A Verdade” (o jornal da cidade, de Lucas Faia) tocava, lá vinha notícia urgente e em primeira mão. Assim é que o povo de Antares vai acompanhando e discutindo (sobretudo a turma da Farmácia Imaculada Conceição) os acontecimentos políticos do cenário nacional: a eleição de JK e a posse tumultuada, o seu governo de prosperidade e progresso (cinqüenta anos em cinco), a construção de Brasília, a industrialização do país. É por essa ocasião que morre Zózimo, no Rio, onde fora transportado em busca de cura.
Candidato da UDN e a parte do PSD dissidente, Jânio Quadros, o candidato de Tibério Vacariano, vence as eleições e renuncia poucos meses depois, levado por “forças terríveis”. Uma decepção para Tibério. A renúncia de Jânio mergulhou o país no caos e na incerteza, pois o Jango, o vice-presidente, de tendência socialista, não era bem visto pelos militares e as forças conservadoras. Tudo foi contornado com o artifício do parlamentarismo, que teria, contudo, vida curta.
Mergulhado na incerteza, com greves e agitações, com Brizola, fazendo barulho, o governo de João Goulart era um convite ao golpe, - o que não demorou a acontecer: era março de 1964.
Enquanto isso, Antares era objeto de uma radiografia: o Prof. Martim Francisco Terra e sua equipe escolheram exatamente Antares para realizar a sua “anatomia duma cidade gaúcha de fronteira”. O objetivo da pesquisa como expõe o professor, era “saber que tipo de cidade é Antares, como vive a sul população, qual seu nível econômico, cultural e social, os seus hábitos, gostos, opiniões políticas, crenças religiosas” etc. (p. 128). Publicado em livro, o resultado da pesquisa revelou-se desastroso para a imagem da cidade, que esperava exatamente o contrário: Antares era uma cidade prosaica, com gente desconfiada e preconceituosa, com vícios de alimentação e um enorme problema social ao seu redor – a favela Babilônia, “um arraial de miséria e desesperança” (p. 138)
Incompatibilizando com a cidade, taxado de comunista, o Prof. Martim passa a ser “personna non grata” na cidade. Mais tarde, será perseguido pela Revolução de 1964 e tem que se exilar do país.
Ao lado da “anatomia” de Antares, realizada pelos pesquisadores do Prof. Martim (inclusive Xisto, neto do coronel Tibério), as personagens gradas do livro são apresentadas através do diário do professor: o coronel Tibério, dono da cidade; D. Quitéria, matriarca dos Campolargos; Vivaldino Brazão, prefeito da cidade; Dr. Quintiliano do Vale, o meritíssimo juiz, o delegado truculento Inocêncio Pigarço; os médicos Dr. Lázaro (da família Vacariano) e Dr. Falkenburg (dos Campolargos); o jornalista Lucas Faia, de “A Verdade”, com o cronista social Scorpio; Pe. Gerôncio, de linha tradicional, e o Pe. Pedro-Paulo, moderno, de linha socialista, taxado de comunista; o promotor Dr. Mirabeau; o fotógrafo de origem checa Yaroslav; o paranóico teuto-brasileiro Egon Sturm, neonazista; o maestro solitário Menandro de Olinda; o Prof. Libindo Olivares, com a sua fama de grande latinista, helenista, matemático e filósofo.

Segunda Parte: o incidente

Comandada por Geminiano Ramos, uma greve geral paralisa todas as atividades em Antares: reivindicando melhoria salarial, cruzam os braços os operários do Frigorífico Pan-Americano (de Mr. Jefferson Monroe III), da Cia. Franco Brasileira de Lãs (de M. Jean François Duplessis), da Cia. De Óleos Comestíveis Sol do Pampa (de Mr. Chang Ling) e também os encarregados da Usina Termo-elétrica Municipal, deixando a cidade às escuras. Era o dia 11 de dezembro de 1963, uma quarta-feira.
Por outro lado, nesse mesmo dia, vem a falecer a veneranda matriarca D. Quitéria (enfarte do miocárdio) e mais seis outras pessoas: Dr Cícero Branco (derrame cerebral), advogado das falcatruas do Cel. Tibério e do Prefeito Vivaldino; o anarco-sindicalista José Ruiz, vulgo Barcelona; o “subversivo” João Paz, torturado pelo delegado Inocêncio; o maestro Menandro, que suicidou, cortando os punhos; o bêbado Pudim de Cachaça, envenenado pela mulher; e a prostituta Erotildes, que morreu vitimada pela tuberculose, na ala dos indigentes do Hospital “Salvator Mundi”, do Dr. Lázaro.

Irredutíveis na sua greve, os operários, com a solidariedade dos coveiros, interditam o cemitério e impedem o enterro, ficando insepultos os sete defuntos. E é aí que acontece o fantástico: os defuntos se erguem dos seus caixões e, após as apresentações, comandados pelo Dr. Cícero, arquitetam um plano, exigindo das autoridades o sepultamento a que tinham direito: “ou nos enterram dentro do prazo máximo de vinte e quatro horas ou nós ficaremos apodrecendo no coreto, o que será para Antares um enorme inconveniente do ponto de vista higiênico, estético... e moral, naturalmente” (p. 250).
Dispostos em ordem hierárquica, os defuntos descem até o centro da cidade, provocando pânico e horror por onde passavam, e estabelecem o caos em Antares. Como ficara combinado, cada um poderia dispor do tempo como quisesse até ao meio-dia em ponto-horário do ultimato ao Prefeito.
D. Quitéria, numa visita aos genros e filhas, já exalando o mau cheiro do corpo em decomposição, assiste à discussão e brigas pelo seu espólio; o Dr. Cícero surpreende a esposa em flagrante adultério com um rapazinho louro, e depois dirige-se à casa do prefeito; Barcelona afugenta os policiais e dá uma lição no delegado Inocêncio Pigarço; Menandro toca enfim a “Apassionata” de Beethoven; Erotildes visita a amiga Rosinha que a recebe, na sua humilde, sem nenhum medo (certamente porque não tinha nada a temer...); Pudim de Cachaça vai ao encontro do velho amigo de bebida Alambique, que o recebe também sem medo (é comovente o amor que demonstra pela esposa que o envenenara); Joãozinho Paz inicialmente conversa com o Pe. Pedro-Paulo, na praça, e depois tem um encontro comovente com a esposa grávida (Ritinha).
Por outro lado, reunido com seus pares, o prefeito busca uma solução para o problema. Até mesmo o Pe. Pedro-Paulo é ouvido na reunião; depois se retira. Após muitas falações, em que o “sábio Prof Libindo tenta explicar o fenômeno como um caso de ‘alucinação coletiva’ “, as opiniões se divergem: o delegado Inocêncio e o Cel. Tibério propõem uma solução violenta, pela força; os outros tendem para a parlamentação com os mortos – proposta que sai vitoriosa.
O encontro entre vivos e mortos se dá exatamente ao meio-dia, com a praça apinhada de gente, sob um sol escaldante. Tem lugar, então, um autêntico julgamento dos vivos, em que os mortos, através do seu advogado constituído, expõem os podres sobretudo das pessoas gradas da cidade: as falcatruas do Cel. Tibério e do Prefeito; a truculência do delegado Inocêncio; a pederastia e vaidade do Prof. Libindo; a caridade falsa do Dr. Lázaro; a magnanimidade hipócrita do Dr. Quintiliano. AO expor essas mazelas da fina sociedade antarense, o Dr. Cícero arrancava aplausos sobretudo dos estudantes que estavam pendurados nas árvores. Tomando a palavra, Barcelona, sem papas na língua, revela casos de adultério de damas insuspeitas e honradas de Antares. O mau cheiro (dos cadáveres em decomposição e sobretudo daquela sociedade podre) atrai urubus e, depois, Antares é invadida por ratos que empestam ainda mais a cidade.
Esse “fenômeno” provoca em Antares uma verdadeira revolução: Dr. Lázaro procura o Pe. Pedro-Paulo para fazer confidências; o Maj. Vivaldino tem que dar explicação à mulher; Dr. Mirabeau se preocupa por ter sido chamado de “fresco” e quer provar o contrário (por sinal, não consegue...); Dr. Quintiliano não consegue dominar mais Valentina, sua esposa, que se revela “pantera acoimada”; o delegado Inocêncio briga com o filho (Mauro), que se manda da cidade; Pe. Gerôncio balança a cabeça, perplexo. Enfim, a cidade de Antares foi sacudida nas suas entranhas com a presença mortos que apodreciam no coreto.
Conforme prometera a Joãozinho, o Pe. Pedro-Paulo transporta Ritinha para o outro lado do rio Uruguai (Argentina), onde estaria a salvo da truculência do delegado. É nessa oportunidade que fica sabendo do amor do Mendes, secretário subserviente do Prefeito, pela mulher de Joãozinho
Atacados a pedradas e garrafadas pelos “embuçados da alvorada” (bando de Tranqüilino Almeida), os defuntos se rendem e voltam para os seus esquifes. Por outro lado, comandada por Germiniano, uma assembléia encerra a greve e os mortos são, enfim, enterrados.
Sepultados os mortos, um vento forte sobra sobre Antares e carrega o mau cheiro que empestava a cidade: aos poucos tudo vai voltado à normalidade e as pessoas vão retomando as suas máscaras. Dessa forma, quando o pessoal da imprensa de Porto Alegre chega a Antares para documentar o fenômeno, o prefeito nega tudo e inventa outra estória: tudo fora um artifício para promover a cidade. Em vão os jornalistas tentam entrevistar outras pessoas. Procurado, o Pe. Pedro-Paulo mostra-lhes a favela miserável da Babilônia.
Numa reunião convocada pelo Prefeito, o Prof Libindo propõe a “operação borracha”, para desespero do Lucas Faia que escrevera um artigo brilhante sobre o “fenômeno”. Coroada de êxito, a “operação borracha” se encerra com um grande banquete em que a sociedade antarense, apaziguada pelo tempo, repõe as suas velhas máscaras.
Retornando à cidade com Xisto, o Prof. Martim Francisco é ameaçado e aconselhado pelo velho Cel. Tibério e pelo Prefeito a sair da cidade. Na despedida, acompanhado pelos seus amigos Xisto e Pe. Pedro-Paulo, ele antevê a chegada da revolução de 64 que está na iminência de acontecer.
Enfim chega março de 1964 e a revolução se instala para ficar e reafirmar os valores da sociedade capitalista, empurrando para longe os anseios socialistas. Cada um vai seguindo o seu destino ou o destino que lhe foi imposto; uns morrem (Cel. Tibério, Pe. Gerôncio); alguns são promovidos (Delegado Inocêncio, o juiz Dr. Quintiliano); o Prefeito Maj. Vivaldino Brazão “entrou num período de hibernação política” e foi cuidar de suas orquídeas; outros foram perseguidos, pelo novo governo (Geminiano, Pe. Pedro-Paulo, Prof. Martim).
Em suma, a julgar pelas aparências, “Antares é hoje em dia uma comunidade próspera e feliz” (p. 484). Entretanto, uma criança que estava começando a aprender a ler, soletra uma palavra perigosa, pichada no muro: “LIBER--- Não terminou: em pânico, o pai arrasta-o e silencia-o com um safanão”.

ORGANIZAÇÃO – ESTRUTURA – PERSONAGENS

1) Como se viu, Incidente em Antares vem dividido em duas partes. Na primeira (“Antares”). “o leitor fica conhecendo a história dessa localidade, bem como as das duas oligarquias rivais que a dominaram política e economicamente por mais de cem anos. Trata-se, em suma, de uma espécie de apresentação do palco, do cenário, bem como das personagens principais e da numerosa comparsaria que, através de seus descendentes, serão envolvidos no dramático ‘incidente’ da sexta-feira, 13 de dezembro de 1963.” (contra-capa).
“A segunda parte, cuja duração é muito menor em tempo de calendário, embora ocupem ais espaço tipográfico, mostra o incidente propriamente dito e suas conseqüências” (contra-capa). Utilizando-se do fantástico como forma de expressão (a animização dos mortos insepultos), Érico Veríssimo revela, a decomposição social e moral da sociedade humana através do microcosmo enfocado (a cidade de Antares).
2) Os fatos são narrados em terceira pessoa por um narrado onisciente e onipresente. Esse narrados, contudo, ao longo da narrativa, vai simulando transcrições de pseudo-autores, como o relato do naturalista francês Gaston Gontran d’Auberville (p. 3); a carta do Pe. Juan Bautista Otero (p. 7); os diários do Pe. Pedro-Paulo e do Prof. Martim Francisco Terra (na apresentação das personagens, por exemplo); os artigos de Lucas Faia no jornal “A Verdade”; e excertos do livro Anatomia duma cidade gaúcha de fronteira, organizado pelo Prof. Martim e sua equipe.
O autor, pois, utiliza-se de todos esses recursos para organizar a sua narrativa, dando, dessa forma, a impressão de que tudo aconteceu e é verdade.
3) Visto globalmente, Incidente em Antares é, sem dúvida, um romance. A primeira parte, contudo, dada sua linearidade e sucessividade episódica, lembra a espécie literária que chamamos de novela: cerca de um século de história fui cronologicamente, antes de o autor se deter na sua análise, em profundidade, da sociedade antarense.
PERSONAGENS
As personagens de Incidente em Antares podem ser agrupadas de acordo com as suas convicções políticas e a sua condição social.
1) Representando a ordem social tradicional, marcadamente conservadora e aristocrática, os dois clãs rivais (Vacarianos e Campolargos) dominam a cidade. É em torno dessa aristocracia, em que predomina o sistema patriarcal, que se organizam as pessoas gradas de Antares, as quais forma e revelam-se podres e em adiantado estado de decomposição moral, exalando um mau cheiro pior que o dos mortos do coreto na praça nobre da cidade. Ao levantar a tampa do “caixão”, retirando a máscara que envolvia cada um desses honrados cidadãos, Érico Veríssimo revela a podridão daquela sociedade carcomida nas suas entranhas. Como se viu pela síntese que fizemos, a verdade não convinha a esses aristocratas, e a solução foi lacrar os caixões e enterrar a verdade com os sete mortos.
2) As personagens femininas, com exceção de D. Quitéria, a matriarca dos Campolargos, vivem à sombra dos seus maridos, submissas e alienadas, aceitando passivamente a ordem estabelecida. Uma exceção a essa passividade e alienação é Valentina, mulher do Dr. Quintiliano. Influenciada por leitura perigosas e possivelmente pelo Pe. Pedro-Paulo, ela se rebela consciente e politizada, questionando o marido e não aceitando as imposições. Era, sem dúvida, um avanço naquela sociedade rigidamente patriarcal. Valentina, contudo, é ainda uma “pantera açaimada” (expressão do Prof. Martim) que não tem condições de se libertar plenamente.
3) As personagens esquerdistas, taxadas de comunistas naquela sociedade conservadora, defendem o socialismo e lutam por um ordem social mais justa e um mundo melhor. Evidentemente, esses progressistas chocam-se com os interesses da aristocracia dominante e são perseguidos. Entre outros, destacam-se aqui o Pe. Pedro-Paulo, o Prof. Martim, Joãozinho Paz com sua mulher (Ritinha), Geminiano ramos, Barcelona, o anarco-sindicalista, e mesmo Xisto, neto do Cel. Tibério.

4) Entre os humildes, constituindo a ralé da sociedade antarense, está o submundo da favela Babilônia. Nessa linha, incluem-se a prostituta Erotildes e o bêbado Pudim da Cachaça. Essas personagens, apesar de discriminadas e marginalizadas, revelam, na sua humilde e singeleza, uma grandeza comovente. Certamente por isso, não assustam os amigos visitados depois de mortos (Rosinha e Alambique).
5) Mais ou menos marginalizados, enclausurados, nos seus dramas pessoais e nos seus traumas, destacam-se o maestro Menandro, o neonazista Egon Sturm e certamente o subserviente secretário do Prefeito (o Mendes). Nessa lista, em falta de outro lugar, talvez possa entrar aqui também o fotógrafo checo Yaroslav.
ESTILO DA ÉPOCA
Publicado em 1971, Incidente em Antares se enquadra no estilo modernista não só pelas inúmeras referências e fatos e pessoas da época atual, como também pela presença de ingredientes que configuram, no livro, o gosto modernista.
1) A fundamentação na cultura nacional revela bem uma das tendências do Modernismo: a valorização de elementos folclóricos e tradicionais, bem como de costumes regionais, é uma das metas modernistas. Esse nacionalismo aparente, contudo, quase sempre esconde dramas existenciais que têm dimensão universal. No livro de Érico Veríssimo, Antares é, sem dúvida, um símbolo de um universo maior. Aliás, essa idéia aparece, numa conotação política, pichada nos muros da cidade: “A sociedade de Antares está podre. Antares é o símbolo da burguesia capitalista decadente” (p. 459).
2) Outro aspecto do livro que configura o Modernismo é o fantástico, que se manifesta em Incidente em Antares através dos sete defuntos insepultos. Embora autores não-modernistas tenham-se utilizado desse recurso também (Machado de Assis em Memórias Póstumas por exemplo), esse é um gosto mais freqüente do Modernismo. Esse truque evidentemente tem o seu sentido: é através do morto (fora, portanto, do palco da vida) que se vê melhor. Ficando fora do círculo da vida, desataviado da máscara e convenções sociais, é possível ver com maior nitidez e mais objetividade.
A invasão dos ratos, sem dúvida é outro elemento bem ao gosto da literatura fantástica.
3) No que diz respeito à linguagem, são constantes os registros da fala coloquial, como é comum no Modernismo. Isso, sem dúvida, confere maior autenticidade à personagem.
“- Me prenda, coronel, me rebaixe de posto, mas uma coisa dessas eu não faço (p. 20).
- Ele vai acabar levando o Brasil pro lado de Moscou (p. 73).
- Também fingi que não tinha visto ele e fiz meia volta (p. 75).
- Uma das meninas me telefonou ind’agorinha (p. 203).
Fiel a esse registro da linguagem coloquial, muitas vezes aparece palavrão e pronúncias típicas do Rio Grande, além de regionalismos.
- Não hai bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. (p. 287).
- Desculpe lê tirar da cama a esta hora, governador (p. 192)
-Se algum filho da pota me fizer qualquer provocação, traço-lhe bala (p. 123).
4) Outro aspecto que se destaca no estilo modernista é a postura engajada assumida pelo autor em relação a problemas de ordem política ou social. Em Incidente em Antares, o autor denuncia não só as falcatruas e negociatas escusas, como também a truculência e atrocidades da polícia, que espanca e tortura em nome da ordem e da segurança social. O caso de Joãozinho Paz e sua mulher gráfica (Ritinha) é dos mais ilustrativos.
O autor modernista, pois, não é um alienado – participa ativamente dos problemas da sociedade em que vive, denunciando as arbitrariedades, desmandos e injustiças.
5) Atenda às novidades e ao progresso, na década de vinte, Antares toma conhecimento do movimento modernista através de versos de Mário e Oswald de Andrade que são receitados num sarau de arte por um forasteiro: “Num sarau de arte, no Solar dos Campolargos, um forasteiro recitou versos modernos – que ninguém entendeu – de Oswald e Mário de Andrade” (p. 30).

ESTILO DO AUTOR / LINGUAGEM

Ao longo da narrativa de Incidente em Antares, Érico Veríssimo revela algumas características estilísticas que configuram a sua maneira de escrever.
1) Como já observamos na “organização e estrutura”, o escritor constrói a sua narrativa intercalando, no romance, textos de pseudo-autores. Essa simulação, em que Érico Veríssimo transcreve relatos, diários e artigos de jornais, imprime à narrativa uma atmosfera de verdade, dá a impressão de que a estória é verdadeira.
É claro que, ao lado da ficção, há fatos históricos, registrados por ele, que realmente aconteceram. Aliás, é o próprio autor quem observa numa “nota”, logo no início do romance: “Neste romance as personagens e localidades imaginárias aparecem disfarçadas sob nomes fictícios, ao passo que as pessoas e os lugares que na realidade existem ou existiram, são designados pelos seus nomes verdadeiros.”
Essa mistura de ficção e história (ou de estória com história) sempre foi uma das grandes características do estilo Érico Veríssimo).
2) Combinado com o sarcasmo e espírito critico que perpassa o livro, o autor revela-se irônico e mordaz ao longo do romance, caricaturando gente, linguagem e instituições. O Prof. Libindo, por exemplo, e outros eruditos da cidade sofrem sob a pena do escritor. Os discursos da palavras bonitas, os artigos de estilo grandiloqüente e pomposo (de Lucas Faia) vêm sempre perpassados de zombaria e sarcasmo. Veja bem a passagem abaixo, em que o sábio Prof. Libindo digladia verbalmente com o meritíssimo juiz Dr. Quintiliano, a propósito do lema dos “Legionários da Cruz”, da D. Quita: “Meu caro magistrado, quem defende a Pátria defende precipuamente a Lei e a Ordem contidas ambas no vocábulo oceânico Pátria (...)”. “Pois se a coisa é assim”, retrucou o juiz, “bastaria então que no lema dos Legionários da Cruz se falasse apenas em Deus, pois a idéia de Deus, na sua universalidade incomensurável, abrande tudo: Ele próprio, as suas leis, a sua ordem cósmica e moral, a Pátria, a Família, a Humanidade”. Ficava de fora a Propriedade, o que levou o Cel. Tibério a gritar: “E a prosperidade?” (p. 180).
Quase sempre com essa conotação irônica, vêm aí informações entre parênteses, como a que vamos transcrever que reproduz uma discussão entre os mortos, em que Dr. Cícero, ante a proposta de votação de Barcelona, diz: “- Não direi que aqui em cima estejamos numa democracia. Imaginemos que isto é uma... uma tanatocracia. (E os sociólogos do futuro terão de forçosamente reconhecer este novo tipo de regime)” (p. 250).
Assim, pois, combinando com a mordacidade que perpassa a obra, o autor ironiza e caricaturiza máscara da sociedade antarense na sua fala gongórica e vazia, na sua postura fingida e hipócrita. Só os humildes e sinceros escapam da “pena da galhofa” de Érico Veríssimo.
3) Outro aspecto que se destaca na linguagem do livro é a tendência do autor para criar tempos novos, quase sempre da formação erudita, com base nos radicais gregos e latinos. Além de “tanatocracia” (= morte+governo), que acabamos de ver no item anterior, veja-se ainda:
“- Vivemos numa cafajestocracia, isso é que é”. (p. 94) (hibridismo: cafajeste+governo).
“- Democracia qual nada, governador! O que temos no Brasil é uma merdocracia” (p. 193) (hibridismo: merda+governo).
Além desses, chama a atenção também para as lições do Prof. Libindo que vai ensinando ao longo do romance:
“O Prof. Libindo me garante que a palavra orquídea vem do grego e significa testículo” (p. 158).
“O Prof. Libindo, num aparte forçado, pergunta se os presentes sabem que a palavra canícula significa na realidade ‘cadela’ e que era o antigo nome da estrela Sírio” (p. 321).
Digno de nota também é o verbo “filho-da-putear”, usado na página 79: “... depois de se filho-da-putearem abundantemente, estavam já de revólver na mão”.
4) Além dessa erudição demonstrada (adquirida de forma autodidata, pois Érico Veríssimo não chegou à universidade, não tenho nem mesmo acabado o curso ginasial), o escritor entremeia a sua narrativa, sempre pela boca de suas personagens eruditas, de latim, francês, inglês e outras línguas.
5) Embora gaúcho, Érico Veríssimo usa com parcimônia vocábulos regionais. Uma ou outra palavra trai o regionalismo gaúcho, como a pronúncia de pronome “lhe” (=lê), o uso de formas que lembram o espanhol, como “Bueno” (p. 200) e “personalmente” (p. 201) e a pronúncia com “e” e “o” do Cel. Tibério, quando usa o palavrão “filho-da-puta”: “Felhos da pota” (p. 204).

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

São muitos os aspectos temáticos que podem ser detectados no romance Incidente em Antares:
1) De conotação política, destacam-se no romance, entre outros, os seguintes aspectos:
a) Érico Veríssimo tece no livro um verdadeiro painel sócio-político, não só no Rio Grande do Sul como do país. Como vimos, o seu mapeamento abrange mais de cem anos e, através dele, pode-se acompanhar as marchas e contramarchas da política nacional. Sobretudo na primeira parte, a impressão que se tem é de que o autor faz mais história do que ficção.
b) Nesse contexto político, além de outros, sobressai a figura de Getúlio Vargas com seu carisma, com seu nacionalismo, com o seu populismo e mesmo com seu fascismo. Com a sua auréola de “pai dos pobres”, chega a ser impiedosamente ironizado por Tibério, quando do seu suicídio, ao ser inquirido por sua empregada sobre o que seria dos pobres: “- Os pobres vão continuar tão pobres como no tempo em que ele estava vivo” (p. 85).
Mas, apesar da frase de Tibério, dita com “perverso despeito”, Getúlio tornou-se um mito para as pessoas simples e humildes, como a preta Acácia, que adorava o pai dos pobres “como se ele fosse um santo” (p. 301). Chega a fazer oração a ele por um melhor salário: “Meu ganhame aqui é pouco e o trabalho muito, Presidente. Mande essa gente me pagarem mais. Amém!” (p. 302).
c) Não obstante, entre os protegidos de Getúlio, a corrupção alastrava com negociatas escusas (contrabandos) e negócios ilícitos. Muitos, como Tibério Vacariano, enriqueceram-se e matinham contas numeradas em bancos da Suíça, favorecidos por negócios falcatruosos e empréstimos com fundo perdido no Banco do Brasil.
Numa conversa em casa dos Campolargos, por exemplo, o Tibério faz esta denúncia: “Em matéria de dinheiro o Getúlio é um homem honesto. Mas finge que não vê certas safadezas que se fazem ao seu redor. A sua técnica é a de corromper para governar. E nunca se roubou tanto, nunca se fez tanta negociata à sombra de Getúlio e em nome dele como neste seu atual quatriênio” (p. 74). Mas o Tibério era suspeito para falar, como pensava com seus botões a D. Quitéria: “Olhem só quem está falando em negociatas” (ib. id.).
d) Priorizando a política desenvolvimentista e a industrialização, vão-se instalando no país (período sobretudo de JK) as multinacionais e, com elas, a espoliação do país e a exploração do proletariado, como revela muito bem a fala humilde da negra Acácia (item b) na sua oração ao Presidente Vargas: “Meu ganhame aqui é pouco e o trabalho muito, Presidente”.
A greve geral decretada pelos operários das multinacionais de Antares é uma resposta dos trabalhadores à exploração e ao salário da miséria que recebiam para enriquecer os abastados. A fala de Geminiano, líder dos grevistas, numa reunião com os patrões e o prefeito revela exatamente isto: “reivindicações salariais”. (p. 200).
e) Combatendo o modelo capitalista, socialmente injusto e perverso, vão-se proliferando os esquerdistas, simpatizantes do socialismo, que se identificam com os pobres e operários e por isso taxados de comunistas e vermelhos. O momento político (de Jango e Brizola) favorecia a esquerdização e os “subversivos” iam-se proliferando, para desespero da sociedade capitalista e conservadora que não aceitava mudanças e reprimia o movimento.
Como observa o Pe. Pedro-Paulo ao Pe. Gerôncio, numa conversa, “comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para designar simplisticamente todo o sujeito que clama e luta por justiça social” (p. 384). Numa outra passagem, esse mesmo padre lembrou ao delegado Inocêncio a postura “rebelde” de Cristo em face das arbitrariedades impetradas pela sociedade da época, dominada pelo império romano, e desafia o delegado torturador de Joãozinho Paz: “- Prenda Jesus, delegado, prenda-o o quanto antes! Interrogue-º Faça-o confessar tudo, dizer o nome de todos os seus discípulos e cúmplices... Se ele não falar, torture-o em nome da Civilização Cristão Ocidental!” (p. 321).
f) Diante do perigo “comunista” ameaçada na sua ordem secular, a caça às bruxas é uma conseqüência lógica, engendrada e executada pela sociedade conservadora e capitalista. A punição através da tortura e mesmo a morte, no sentido de reprimir esse clamor que exige justiça e liberdade, é antigo milenar. Basta lembrar Cristo crucificado ou, em nosso caso, o Tiradentes do Romanceiro de Cecília de Meireles.
Joãozinho Paz, sem dúvida, é aqui o bode expiatório, executado pela sanha do delegado Inocêncio Pigarço, em nome da ordem e da segurança da classe dominante. Conforme vem registrado no diário do Pe. Pedro-Paulo, “Joãozinho foi torturado barbaramente. Seu rosto está quase irreconhecível. Um braço e uma perna partidos” (p. 295). Por outro lado, detalhes da tortura vêm denunciados pelo morto Dr. Cícero, voz insuspeita do além-túmulo, no julgamento da praça nobre de Antares: “Vêm então a fase requintada. Enfiam-lhe um fio de cobre na uretra e outro no ânus e aplicam-lhe choques elétricos. O prisioneiro desmaia de dor. Metem-lhe a cabeça num balde d’água gelada e, uma hora depois, quando ele está de novo em condições de entender o que lhe dizem e de falar, os choques elétricos são repetidos...” (p. 369).
Como observou o Barcelona, do além-túmulo, “o delegado Inocêncio tinha aproveitado bem a sua ‘bolsa de estudos’ com a polícia do Estado Novo” (p. 254).
2) Numa divisão meramente didática, destacava-se também no romance a análise da sociedade antarense, que tem obviamente conotação simbólica, objetivo esse empreendido e executado com maestria pelo escritor:
a) A sociedade enfocada no livro, como se tem mostrado, caracteriza-se pelo conservadorismo, apegada às aparências e fachadas, coisa de suas tradições e costumes seculares. Através da pesquisa organizada pelo Prof. Martim e sua equipe, Érico Veríssimo faz uma verdadeira anatomia da sociedade local, que é também, no fundo, o retrato de tantas outras.
Conforme registra Prof. Martim no seu diário, o juiz Quintiliano é bem um símbolo dessa “sociedade simétrica, policiada, regida por leis inflexíveis e imutáveis, cada coisa no seu lugar (e quem determina o ‘lugar exato’ é a tradição, e tradição para ele é algo que tem a ver com seus ancestrais – pai, avô, bisavô, trisavô, etc). Está sempre, notei, do lado do oficial, do consagrado, do legal” (p. 417)
b) Organizada pelo macho, impera na sociedade antarense o sistema patriarcal e machista, em que o poder é exercido pelo homem, de forma despótica e absoluta. Sua vontade é a lei, o seu querer tem que ser respeitado, a sua voz tem que ser ouvida. O Cel. Tibério é certamente o grande senhor patriarcal do livro. Sempre armado, o coronel tinha o hábito de resolver tudo a bala. Até mesmo no caso dos mortos, a sua sugestão, bem como a do delegado, era de fazer os mortos retornarem ao cemitério, à força.
c) Posta nesse contexto, a mulher vive à sombra do macho, em tudo submissa, passiva e subserviente, aceitando a ordem estabelecida. Poucas reagem contra essa ordem em que fazem o papel de “matrona romana”. Como já observamos, o exemplo de Valentina, com seu gesto de rebeldia, é uma tentativa ainda tímida de ruptura na ordem machista. Outro exemplo é a hatiana Dominique, mulher de M. Duplessis, a qual costumava “aprontar” nos rituais vudu.
Entretanto, integrada no “baile de máscaras” da sociedade, como diz Dr. Quintiliano a Valentina, é importante, para a mulher parecer honesta: - “Valentina, não basta a uma mulher ser honesta. É preciso também parecer” (p. 429)
d) Organizada assim – valorizando as aparências e fachadas – está claro que pobres e humildes serão objeto de discriminação e desprezo. Aqui entram as prostituas, bêbados, a favela Babilônia, os loucos e desafortunados da sorte; aqui entram até mesmo os “subversivos”, como Pe. Pedro-Paulo, sempre mal visto e rejeitado pela sociedade; e também entram aqui os infelizes e solitários – os que sofrem de amor, como o Mendes, e os que sofreram trauma da frustração da derrota, como o maestro Menandro. Isso é o inferno – o inferno estava em Antares sob a forma do preconceito, e do desprezo, conforme dizia a D. Quita, no além-túmulo:
“- D. Quitéria, eu tive em Antares uma amostra do inferno. A incompreensão, o sarcasmo, a impiedade dos antarenses me doíam fundo. O inferno não pode ser pior que Antares” (p. 246).
e) Convivendo com essa podridão, conivente muitas vezes com falcatruas e arbitrariedades, parada no tempo, a igreja de Pe. Gerôncio ia rezando suas missas em latim, encomendando os seus defuntos à espera do Juízo Final, acomodada e fiel as tradições milenares, insensível aos problemas sociais e às vozes que clamam por justiça.
Esta é a imagem da religião tradicional, moldada à imagem e semelhança da sociedade aristocrática de Antares. A ela se contrapõe a igreja de Cristo, voltada para os pobres e miseráveis da vida; no lugar das rezas convencionais e da liturgia teatral dos milênios, surge o clamor de vozes que buscam a justiça e a libertação das garras do inferno, - inferno que é a vida degradante de milhões de miseráveis que jazem à margem de Antares.
Identificada com os pobres, chamando por justiça social, combatendo a truculência e as arbitrariedades humanas, esta é a igreja de Cristo, como diz o Pe. Pedro-Paulo ao Pe. Gerôncio:
“- Padre, enquanto Deus não nos disser claramente o que Ele pensa de tudo isso, nós devíamos em nome de Cristo, que era e é deste mundo, combater tipos como Inocêncio Pigarço, que matam em nome da Justiça, do Capitalismo, do Comunismo, do Fascismo, da Família, da Pátria e (não ria!) até mesmo de Deus”.
f) Em suma, nesse grande painel que é Incidente de Antares, Érico Veríssimo se revela imparcial, acima de ideologias e faz uma crítica contundente e mordaz à sociedade. Através do truque utilizado, em que os mortos insepultos exigem o sepultamento, ele expõe os podres daquela sociedade em decomposição, hipócrita e carcomida nas suas entranhas. Os mortos insepultos e o mau cheiro exalado, sem dúvida, constituem um símbolo e revelam bem a decomposição moral da sociedade.
Nada escapa à crítica do escritor. Ao erguer a tampa do caixão, ele destila o fel da sua mordacidade e desmascara a nata da sociedade antarense: nada escapa – nem a direita nem a esquerda; nem mesmo a medicina com sua falsa filantropia; nem muito menos a imprensa que com sua bisbilhotice; nem muito menos Rotary e o Lions com seu espírito fraternal; não escapam muito menos os doutores e professores com sua fala erudita e gongórica; também as senhoras honradas e impolutas são devassadas nos seus segredos de alcovas, flagradas em delitos de cama; nem mesmo o venerado ancião da estátua, exemplo-mor para descendentes e ascendentes, escapa à devassa realizada pelo escritor.
Entretanto, com o sepultamento dos mortos, a verdade também foi encerrada e a mentira, vitoriosa e triunfante, retoma o seu lugar no baile dos mascarados e na estátua da praça nobre da cidade.
CONCLUSÃO
É impossível ler um livro como Incidente em Antares e não se sentir assustado, não com os mortos que descem para a cidade, mas com a mentira que jaz subjacente em cada um de nós. É impossível ler um livro como este e não mexer, no sentido de combater e extirpar, da face da terra, a truculência e a mentira. É impossível sair da leitura deste livro insensível à causa do Pe. Pedro-Paulo e de Joãozinho Paz, em busca da justiça e do amor. É impossível ler este livro e sair dele sem se emocionar com o drama comovente de Joãozinho Paz e seu amor à vida, como diz ao Pe. Pedro-Paulo.

“Eu quisera acreditar em Deus e na vida eterna. Mas não posso. Nunca pude. Mas acredito na vida. E como! Tenho esperança num futuro melhor para nossa terra, para o mundo. Quero que meu filho nasça, cresça e viva para participar desse mundo” (p. 294)
Redimido pela leitura de Incidente em Antares, o filho de Joãozinho Paz crescerá nas nossas entranhas. Viverá e frutificará. Salvará o mundo da truculência e da mentira.
Que fique também, em cada um de nós, a lição do Pe. Pedro-Paulo com seu amor à vida e a sua luta em favor do Império do Amor:
“- Padre, espero não estar pecando quando sinta a alegria de estar vivo. Gosto da vida. É um desafio permanente. Se ela é absurda, sem sentido, então procuremos dar-lhe um sentido. Eu acho que a senha é o Amor” (p. 338).
Sem dúvida, é possível fazer tudo isso. Existe em cada um de nós um “menino do dedo verde” – capaz de amar e transformar o mundo. O ser humano não é o que parece, como dizia um tropeiro ao Pe. Pedro-Paulo (p. 439): “Olhe, moço, ninguém é o que parece. Nem Deus”.
Oxalá este livro possa provocar em cada um de nós o incidente do Amor e nos despertar para a Beleza da vida!

sábado, 25 de abril de 2009

Exercícios para ajudar na nota

Galera!! Salve "procês"!!

Bom, seguinte: para quem acha que não foi bem na prova, tenho um encaminhamento. Faça os exercícios propostos e complementares do capítulo IV e V, pois é nosso assunto desta próxima semana. Confiro em sala os resultados.

Beleza? É isso aí, meus queridos. Valeu pela força de todos.

Qualquer coisa, estamos aí; mandem e-mail para dúvidas.

Salve Geral!!

Alexandre

terça-feira, 14 de abril de 2009

Aula da Semana: conjunções subordinativas

Gentes!!!

Estou postando a aula da semana. Aproveitem e bons estudos, beleza?

Salve!!


Conjunções Subordinativas

A conjunção é a palavra que une orações ou termos de uma oração que possuem mesma função. Essa relação estabelecida entre as orações pode ser independente, quando se trata de orações coordenadas; ou dependente, quando se trata de subordinadas.
Quando a conjunção exerce seu papel de ligar as orações, e estabelece entre elas uma relação de dependência sintática, temos subordinação. Veja o exemplo:

Maria confirmou que não esteve em casa hoje.

As duas orações estão ligadas pela conjunção "que" e têm relação de dependência entre si, uma vez que na primeira oração (Maria confirmou) o verbo “confirmou” não tem por si só sentido completo e depende da segunda (que não esteve em casa hoje) para tê-lo. No entanto, a segunda oração é a subordinada, já que está sujeita à primeira, com função de complemento do verbo. Assim temos a oração principal: "Maria confirmou", e a oração subordinada: "que não esteve em casa hoje", ligadas pela conjunção integrante "que", a qual é subordinativa, pelo fato de estar unindo a oração subordinada à oração principal.
Podemos classificar as conjunções subordinativas em:

• integrantes – são introdutórias de orações subordinadas substantivas: que, se, como, etc.;
Exemplos: Desconheço quando ele chegou.
Não sei dizer se ele chegou.

• causais – exprimem causa: porque, como, uma vez que, já que, etc.;
Exemplos: Eu sou feliz porque tenho uma família.


• concessivas – exprimem concessão: embora, ainda que, mesmo que, apesar de que, etc.;
Exemplos: Quando fui dormir ainda estava claro, ainda que passasse das sete da noite.
Apesar de estarmos refletindo mais sobre a economia do país, os juros só tem aumentado.

• condicionais – exprimem condição ou hipótese: se, desde que, contanto que, caso, se, etc.;
Exemplo: Avise-me caso eles já saibam da nova lei.

• conformativas – exprimem conformidade: conforme, segundo, como, consoante.;
Exemplo: Conforme ia passando o tempo, meu corpo cansava cada vez mais.

• comparativas – estabelecem comparação: como, mais...do que, menos...do que, etc.;
Exemplo: Estou mais feliz hoje do que ontem.
Ele chorou como quem tivesse perdido algo de muito valor sentimental.


• consecutivas – exprimem conseqüência: de forma que, de sorte que, que, etc.;
Exemplo: Estudou tanto que adormeceu.

• finais – exprimem finalidade: a fim de que, que, porque, para que, etc.;
Exemplo: Vamos embora a fim de que possamos assistir ao filme.

• proporcionais - estabelecem proporção: à medida que, à proporção que, ao passo que, etc.;
Exemplo: À medida que estudo todos os dias, minha memória se torna melhor.

• temporais – indicam tempo: quando, depois que, desde que, logo que, assim que, etc..
Exemplo: Desde que você foi embora, meu coração gerou expectativa para que voltasse.

terça-feira, 17 de março de 2009

Tire dúvidas com o Alexandre

(os nomes dos alunos não serão divulgados)

OI!!!! Beleza de questão, XXXX!! Vamos lá:

A palavra paronomásia vem de "para" (de paralelo, paradoxo, oposição) e onomásia (que pode ser simplificado para "nome"). Nome diferente. A paronomásia é uma figura de som; o trocadilho de semântica, de palavra. Portanto, a figura de som visa a musicalidade; visa uma proximação entre os sons, no caso da paronomásia. "Meu amor é um humor só" num poema ou música, seria como que uma rima interna, um eco. Paronomásia são palavras que se aproximam pelo som.

O trocadilho é uma brincadeica com a palavra que gera dois sentidos: um pejorativo e outro denotativo, que lembra o sentido da palavra original. Em "América Latrina" há um trocadilho. Por que, percebe? Outros: em "Armando Barraca" há dois sentidos: o do nome próprio e o do sintagma "(ele estava) armando barraca (de acampar)", por exemplo.

O que você acha? Entendeu? Se não, retorne. Já no que refere à questão dos conectivos, a alternativa é a "A". Por quê? No caso, você teria de testar todos os conectivos. Comece por ela, a "A"




Vejamos como os vestubulares têm abordado o assunto:
Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente seja a mais adequada pelos conectivos propostos.



A violência no País há muito ultrapassou todos os limites. Tanto é assim que dados recentes mostram o Brasil como um dos países mais violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte por homicídio.
Em 1980, tínhamos uma média de, aproximadamente, doze homicídios por cem mil habitantes.Lamentavelmente, nas duas décadas seguintes, o grau de violência intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do índice verificado em 1980 – 121,6% –, ou seja, no final dos anos 90 foi superado o patamar de 25 homicídios por cem mil habitantes. Ao mesmo tempo, o PIB por pessoa em idade de trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a cada queda de 1% do PIB a violência crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e 1990.
Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostram que os custos da violência consumiram, apenas no setor saúde, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997. Se bem que a vitimização letal se distribui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a própria vida o preço da escalada da violência no Brasil.


(Adaptado de http:// www.brasil.gov.br/acoes.htm)

a) 1 – Tanto é assim que; 2 – Lamentavelmente; 3 – Ou seja; 4 – Simultaneamente; 5 –

Se bem que;

b) 1 – Lamentavelmente, 2 – Ou seja; 3 – Simultaneamente; 4 - Tanto é assim que, Se

bem que;
c) 1 – Simultaneamente; 2 – Se bem que; 3 – Lamentavelmente; 4 – Ou seja; 5 – Tanto

é assim que;
d) 1 - Tanto é assim que; 2 - Ou seja; 3 - Lamentavelmente; 4 - Simultaneamente; 5 –

Se bem que;
e) 1 – Simultaneamente; 2 – Ou seja; 3 – Tanto é assim que; 4 – Lamentavelmente; 5 –

Se bem que;

Como que eu faço para "achar" a melhor alternativa? Tentei ir pelo contexto, mas não cheguei a nenhuma alternativa.

Obrigada, XXXXX.



Pois é, XXXXX, se você começar pela primeira alternativa "Tanto é assim que" na primeira lacuna você já excluiria três alternativas, porque não seria possível para o sentido do período você encaixar "simultaneamente" ou "lamentavelmente", embora "lamentavelmente" até se encaixasse, mas não teria relação nenhuma com a primeira oração. Neste caso, ficariam duas frases sem relação. "Tanto é assim que" liga diretamente a primeira oração com a próxima, não é? Reveja. E aí, concorda? É a mais adequada, pois estabelece função de apontar a consequência da anterior e "provar"com dados a primeira oração.

"Lamentavelmente" é " de modo triste", e a relação com a primeira oração é mais aparente, como se "o aumento da violência" e os "dados" fossem tristes. Sim, os "dados", que é um substantivo posposto ao advérbio e, no caso, vai modificar não só o termo como toda a frase: o advérbio não necessariamente se aplica apenas à palavra posposta, no caso.

"Simultaneamente" (ao mesmo tempo) e "Lamentavelmente" tem função de "modo", fracamente em relação afirmação anterior (estou até admitindo a possibilidade), e fundamentalmente com a oração posterior, ou seja, todas as informações e afirmações a seguir podem ser lamentáveis. E não o aumento da violência, como pretende a locução "Tanto é assim que". Esta consequência é subordinada a oração anterior. Pense: "lamentavelmente" fica mais "estranho", porque só lamenta a oração posterior. Faz sentido, mas tem outro mais adequado: "Tanto é assim que" confirma o argumento anterior (de que a violência aumentou há "tempos") demonstrando o que acontece na sequência (é uma conjunção subordinativa consecutiva), isto é, que fala da consequência da oração anterior: há um aumento da violência e o texto apresentará os dados que provam a consequência desse aumento. É um recurso que pode ser proposital, se pensado para escrever um texto em que você quer apontar as consequências de uma ação, questão, pensamento, etc.

Não fica melhor a alternativa "A" para todas as alternativas? Procure se orientar para o que significa melhor, com mais propriedade.

Valeu?

Estamos aí.

Alexandre

Sobre a prova!!

A galera está nervosa, mas já vou adiantando: gente, é uma prova diagnóstica. De avaliação de perfil. E de conteúdo também.

Quem anotou o que falei e se baseou nas aulas em sala e nos textos que tenho escrito por aí fique tranquilo. Pense que você irá interpretar textos e responder questões técnicas que estudamos em sala. Nada mais do que isso. Estou avaliando o perfil de cada aluno: e essa é a proposta da escola. Conhecê-los melhor para encaminhá-los e orientá-los, personalizadamente, sobre sua dedicação aos estudos: é o melhor projeto pedagógico ( e nesse sentido estou de pleno acordo). E acho que vocês também estão de acordo com essa proposta, pelo menos de modo geral.

Será difícil? Difícil é responder essa pergunta. De modo geral, não, mas exigirá atenção e leitura atenta. Como qualquer vestibular de bom nível.

Ler e escrever é a porta de entrada para uma boa faculdade e para se dar bem na prova de 18/03.

Vocês entenderão. Não sei quando, alguns, mas vão. Relaxem, portanto, todos.

Sugestão: leiam os poemas, ouçam as declamações, proponham debates teóricos para estimularmos o cérebro (você já descobriram que adoro isso: aproveitem-se-me!!): escrevam e pensem, porque um é concretização do outro.

Até

Alexandre





As brechas do acordo ortográfico

Pessoas!!

Estou postando uma análise sobre o acordo ortográfico. Leiam para debatermos.

Até

Alexandre César

Como a Academia Brasileira de Letras preencheu as lacunas e
contradições da lei ortográfica


A Academia Brasileira de Letras concluiu em dezembro e lança em março
a versão mais recente do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
pela Global Editora, à luz das regras ortográficas que entraram em
vigor este ano. Nele estão as palavras tal qual o acordo manda grafar.
Mas também as grafias sobre as quais a nova lei se contradiz ou se
omite. Não foram poucos os casos do gênero, garante o gramático
Evanildo Bechara, que liderou a equipe da ABL na empreitada.

- Buscamos decifrar o espírito do acordo para preencher as lacunas,
fundando-nos em bom senso e na tradição lexicográfica corrente - diz
Bechara.

Bechara explicou a conduta da ABL num debate em novembro, no Anglo
Vestibulares, em que também participaram linguistas como José Luiz
Fiorin, Francisco Platão Savioli e Maria Helena de Moura Neves.

- Ficamos sem saber se o acordo, na tentativa de simplificação,
esqueceu de apresentar todos os casos ou adotou um critério de dizer
que, nos casos omissos, prevalece a grafia antiga. Pois o acordo teve
uso curioso do "etc.": pôs "etc." até nas exceções. Decidimos, então,
que a exceção fica restrita aos casos prescritos na lei como exceção -
diz Bechara.

Significa que a ABL ignorou qualquer exceção que não já citada em lei,
só as que estão na lista de exceções antes de surgir o "etc."

- O espírito do acordo sugere a queda do uso do hífen. Não fazia
sentido "fim de semana" às vezes levar hífen e "fim de século" nunca
levar. O acordo resolve isso. Ficam os dois casos sem sinal. Mas nem
tudo foi tão fácil interpretar - diz Bechara.

Hifens
O acordo manda ignorar o hífen em expressões compostas por mais de uma
palavra, quando não há noção de composição. Mas não há pesquisas
precisas sobre perda da noção de composição na maioria dos casos,
pondera Bechara.

A lei ignora os elementos repetidos que formam compostos. A ABL,
então, estendeu o hífen às onomatopeias e palavras expressivas:
"blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue",
"xique-xique", "lenga-lenga" e derivados como "zum-zunar" e
"lenga-lengar". Casos mais complexos, como "tintin por tintin", são
agora grafados com hífen (tintim-por-tintim).

Simplificaram, por um lado, a ortografia em vigor nas navegações e
complicando de outro. Como acomodar, então, a reduplicação da linguagem infantil em palavras
criadas por adultos (titio, papai, mamãe)? A se aplicar a regra,
haveria hifens indesejáveis nesses casos. Compreendeu-se, então, diz
Bechara, que nesses casos a sílaba não funciona sozinha, não tem
individualidade discursiva. Portanto, a composição não terá hífen.

E "bombom"? Não é onomatopeia, mas termo de origem francesa.
Escreve-se junto, sem hífen, definiu a ABL. Assim como "bumbum". Mas
se "bum" vier só e em vez do segundo "bum" houver outro elemento: com
hífen, avisa Bechara.

O acordo omite a existência ou não de hífen nos casos em que "não" e
"quase" estão ao lado de outras palavras. A ABL não manteve o hífen.
Assim, grafam-se "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito",
por exemplo. Sem hífen.

A lei define que terão hífen as palavras oriundas ou derivadas da
botânica ou da zoologia. Daí "água-de-coco"; "azeite-de-dendê";
"bálsamo-do-canadá". Mas não "sumo de maracujá"; "suco de limão", pois
a preposição não estabelece sentido único. Nem tampouco expressões
usadas fora do contexto botânico. Por isso, interpretou a ABL:
Bico-de-papagaio = com hífen, pois é planta.
Bico de papagaio = sem hífen, pois é problema de coluna.

Contexto
A nova lei ortográfica não avança em problemas contextuais. Como
locuções não levam mais hífen (pé de moleque, calcanhar de aquiles),
assim como "pé de galinha" (ruga) e "pé de galinha" (pata de
galináceo). Só o contexto dará a diferença.

Porque caiu o acento diferencial, só o contexto da frase determinará
se "Ronaldo para o Corinthians" é com "para" (forma verbal) ou "para"
(preposição): Ronaldo conseguiu parar o time ou vai trabalhar nele?
Assim "trabalhou à toa" (advérbio) x "estou à toa" (adjetivo), todos
sem hífen. E "dia a dia" sem hífen, não importa o contexto. Antes, no
sentido de "cotidiano", tinha hífen.

O acordo define que paroxítonas com ditongos ei e oi abertos perdem
acento (estreia, hemorroida). Mas não se lembrou, diz Bechara, de
paroxítonas presas a regras gerais de acentuação, com ei e oi, que
precisam de acento se terminadas em r: "destróier", "Méier", "gêiser".
A grafia delas fica como antigamente.

Omissões
As sugestões da ABL às lacunas do acordo ortográfico, que assumem
valor de lei no Brasil, suscitam dúvidas. De um lado, acabam com
ambiguidades e erros das edições de dicionários impressas no ano
passado. Quem consultar versões "atualizadas conforme o acordo", de
editoras ávidas em garantir sua cota de venda ao governo, encontrará
grafias que nem sempre correspondem às de concorrentes, tampouco às da
ABL.

Mas não está dado que Portugal acate as sugestões brasileiras, podendo
lançar grafias diversas das propostas pelo Brasil, se e quando
tratarem do problema (os europeus resistem ao acordo e a preencher
suas lacunas). A ABL cria o fato político de precipitar o debate que
os portugueses tendem a levar com a barriga.

O mais contundente dado político da medida da ABL, no entanto, é o de
demarcar posição e, com isso, normatizar o que talvez nem precisasse.
Um equívoco no uso do hífen não é o tipo de tropeço que atrapalha a
compreensão ou afete a imagem da pessoa. Ninguém será tomado por
ignorante nem deixará de ser entendido ao escrever "água-de-coco" com
ou sem hífen. Antes de dar vazão à ânsia normativista, talvez fosse o
caso de fazer como idiomas em que o hífen é, quando não ignorado,
deixado ao gosto do freguês. Mas o Brasil escolheu outro caminho. Quem
quiser que o siga.

Completando o acordo
Decisões da ABL para as omissões da nova lei ortográfica

Sem hífen "Dia a dia", em qualquer contexto

"Fim de semana", em qualquer contexto (ao modo de "fim de século")

"À toa", seja advérbio ou adjetivo

"Pé de galinha", seja ruga ou pata (ao modo de "pé de moleque",
"calcanhar de aquiles")

"Bico de papagaio", o problema de coluna e nariz adunco. "Não" e
"quase" complementando outras palavras, como em "pacto de não
agressão" e "cometeu um quase delito"

Com hífen
"Bico-de-papagaio", a planta (ao modo de "água-de-coco" e "azeite-de-dendê")

Onomatopeias e palavras expressivas com elementos repetidos:
"blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue",
"xique-xique", "lenga-lenga", "tintim-por-tintim"

Pergunta: o que essa reforma, efetivamente, melhora em relação à ortografia?

terça-feira, 10 de março de 2009

Reforma Ortográfica

Salve gente!!!

Quero iniciar as postagens tirando dúvidas, fazendo esclarecimentos e iniciar um debate sobre a Reforma Ortográfica.

A primeira coisa (conteúdo de sala) é sobre a aula da semana passada, acentuação de ditongos. Gostaria de destacar alguns pontos, os quais, acredito, ficaram por esclarecer. Para efeito geral, vale este linque do governo federal

Edital da Reforma Ortográfica - Decreto 6583/95

como texto oficial da reforma ortográfica e base para nosso debate aqui.

Logo abaixo, postei um texto publicado pelo OESP (O Estado de São Paulo) dessa semana com um esclarecimento do professor Evanildo Bechara, (um defensor da reforma, inclusive), sobre quinze pontos contraditórios ou que estavam em desacordo, nos últimos debates entre especialistas. Quero, mais para frente, postar alguns pontos de vista diferentes sobre a reforma, pois é importante que saibamos as bases que sustentam essas propostas e sobre que condições elas foram impostas. São muitos países envolvidos, portanto, não é uma simples reforma, apesar de ser absolutamente cosmética. Mas deixemos os debates para depois. Escrevam suas opiniões, por sinal. É exercício de escrita e de pensamento.

Além disso, devo esclarecer uma dúvida (alguns alunos manifestaram-se!!) e um equívoco que acabei levando para algumas turmas. A dúvida é sobre as vogais átonas "i" ou "u". Vejam como podemos defini-las: podem ser chamadas de semivogais porque dividem seu som entre outras duas vogais, no caso. É como se a vogal se alongasse e se dividesse: col-mei-(i)a, joi-(i)a, fei-(i)o, fei-(i)u-ra, ji-boi-(i)a, isto é, parte do seu som se divide. E agora sem acento esses ditongos, já falamos disso. Na lousa, enquanto testávamos as possibilidades de divisões silábicas, deixei inadvertidamente a divisão do vocábulo jiboia de forma equivocada "ji-bo-ia". O correto é "ji-boi-a", beleza? Um aluno percebeu isso e veio tirar a dúvida. Um aluno ligeiro e atento, diga-se de passagem. Boto fé em você, camarada. Avancemos.

Outra questão, deste mesmo aluno, foi quanto à acentuação de alguns ditongos, e que esta reportagem publicada ontem (09/03) põem fim ao debate, enfim. Tá vendo meu velho? Estamos atualíssimos e comunicantes!!!

Vamos ao texto?

Alexandre


OESP

Evanildo Bechara, coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da ABL e principal responsável pelo Volp, especifica os critérios adotados pela comissão: respeitar a letra do acordo, estabelecer uma linha de coerência quando surgiam princípios aparentemente contraditórios, acompanhar o espírito simplificador da reforma e, nos pontos não discutidos no texto, preservar a tradição ortográfica decorrente das reformas anteriores. Ele explica que foram adotadas 15 medidas para dirimir dúvidas ou ambiguidades no texto do acordo:

- Ditongos abertos "ei" e "oi" são acentuados quando ocorrem em palavras terminadas em -r. Exemplos: Méier, destróier, blêizer, gêiser

- Usa-se acento circunflexo nos paroxítonos com encontro "ôo" em palavras terminadas em -n. Exemplo: herôon

- Paroxítonos terminados em -om também devem ser acentuados. Exemplos: iândom, rádom

- Usa-se acento no hiato "ui", quando a vogal tônica é o "i". Exemplo: arguí (1ª pessoa do singular do pretérito do indicativo)

- O acordo afirma que "emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica". As exceções estão limitadas às palavras explicitamente relacionadas no acordo, admitindo apenas formas derivadas e aquelas consagradas pela tradição ortográfica dos vocabulários oficiais (ou seja, presentes em dicionários brasileiros e portugueses). Exemplos: passatempo, varapau, pintassilgo

- Não se usa hífen depois do prefixo an- quando o 2º elemento começa com h-. Exemplos: anistórico, anepático

- Usa-se hífen nos substantivos compostos formados com elementos repetidos, com ou sem alternância vocálica ou consonância de formas onomatopeicas. Exemplo: blá-blá-blá, reco-reco, trouxe-mouxe

- Além das denominações botânicas e zoológicas, que já contam com uma regra clara no acordo, os produtos afins e derivados também devem receber hífen segundo a tradição ortográfica. Exemplo: azeite-de-dendê, bálsamo-do-canadá. Observação: não se acentuam expressões como água de coco e sumo de laranja

- Não se emprega hífen em formas homógrafas de denominações zoológicas e botânicas com hífen. Exemplo: bico de papagaio (quando não designa a planta, mas a doença)

- Prefixo co- não exige hífen. Exemplos: coerdeiro, coabitar

- Prefixos átonos pre-, re- e pro- não demandam hífen. Exemplos: reeleição, propor, preencher

- Nas palavras compostas, quando não há perta de fonema do 1º elemento e o 2º começa com h-, o uso do hífen é facultativo. Exemplo: carboidrato e carbo-hidrato

- Devem ser consideradas locuções (portanto, rejeitam o uso do hífen) as unidades fraseológicas com sentido substantivo. Exemplos: "Foi um deus nos acuda", "Adotou-se o princípio do salve-se quem puder"

- Expressões latinas não empregam hífen, exceto quando estão aportuguesadas. Exemplos: pro labore e pró-labore, in octavo e in-oitavo

- Não se emprega hífen nos casos em que as palavras "não" e "quase" funcionam como prefixos. Exemplos: não fumante, quase irmão.

Assalto Cultural

Reforma Ortográfica em Quadrinhos

Reforma Ortográfica em Quadrinhos

Gabarito da P2

Prof. Alexandre César

Instruções para esta prova:

Conteúdo: Fonologia e Implícitos (capítulo 2 e 3); Classes Gramaticais:

Conjunção e Preposição (capítulo 5, 9 e 14);

―Evite rasuras, abreviações e linguagem coloquial;

Questões respondidas a lápis, rasuradas ou modificadas com corretivo líquido

não terão direito à revisão de nota;

―As respostas devem ser construídas com texto; as referênciasem linhas” às

questões correspondem a uma sugestão quanto ao número de linhas da

resposta. Portanto, é variável a quantidade de linha, mas não suprimível o

formato textual das respostas;

―Faça letra legível e procure organizar o texto;

Salve e boa prova para vocês!!


Texto 1 para as questões.

A flauta que me roubaram

Cassiano Ricardo

Era em São José dos Campos.

E quando caía a ponte

Eu passava o Paraíba

Numa vagarosa balsa

Como se dançasse valsa.

O horizonte estava perto.

A manhã não era falsa

Como a da cidade grande.

Tudo era um caminho aberto.

Era em São José dos Campos

No tempo em que não havia

Comunismo nem facismo

Pra nos tirarem o sono.

havia pirilampos

Imitando o céu nos campos.

Tudo parecia certo.

O horizonte estava perto.


Havia erros nos votos

Mas a soma estava certa.

Deus escrevia direito

Por pequenas ruas tortas.

A mesa era sempre lauta.

Misto de sabiá e humano

O meu vizinho acordava

Tranqüilo, tocando flauta.

Era em São José dos Campos.

O horizonte estava perto.

Tudo parecia certo

Admiravelmente certo.



Lauta: exuberante, farta, grandiosa.


Texto 2 - Agora, leia este trecho de um discurso do próprio Cassiano Ricardo sobre o poema acima:

“(...)o “Martin Cererê, sob o aspecto do amor à terra, a nossa paisagem rural e humana, reflete o tempo em que vivi na pequena fazenda de meus pais, em Vargem Grande, além do Paraíba e do Buquira. Não poderia eu ter escrito, por exemplo,”Soldados Verdes” e “Florada” sem esse contacto com as coisas da roça que, na adolescência, conheci e amei, em meu município. Ausente da terra de meu nascimento, quanta vez o seu retrato me apareceu na memória com a nitidez dos fatos aqui vividos, com a imagem de todos quantos foram meus amigos, desde a meninice.


Minha poesia, em várias passagens, reproduz S. José dos Campos. Um S. José ainda sossegado, de ruas quietas e hábitos tranquilos. ”Era em S. José dos Campos. E quando caía a ponte (...)”. Este S. José de que falo em meu poema (A flauta que me roubaram) se foi com o tempo, com os idos de 1910.


Dois pormenores figuram, que desejo explicar: o da ponte sobre o Paraíba, que não raro caía, obrigando o menino, que era eu, a atravessar o rio em balsa, quando vinha do sítio de meus pais à cidade; e o do vizinho que tocava flauta. Quem era ele? Não serei indiscreto em dizer que se tratava de Teodoro Mascarenhas, que foi meu querido colega no quarto ano do grupo escolar e a quem rendo o meu preito de saudade.”(1)

(1)Monteiro, ªM., (2003) Cassiano: fragmentos para uma biografia. 1ª ed., São José dos

Campos: UNIVAP, p.284



Questões

Cassiano Ricardo empregou, em seu poema, alguns recursos linguísticos como meio de auxiliar a expressão de seus sentimentos, memórias e idéias. Tendo em mente as figuras que aprendemos durante o curso, responda as questões a seguir:


1. Em qual estrofe do poema é possível identificar o emprego da elipse? Reescreva o(s) verso(s) em que ocorre(m) tal emprego.


É possível identificarmos em todo o poema o emprego da elipse. Para exemplificar, destacaremos os versos “Havia erro nos votos / mas a soma (dos votos) estava certa.”, na terceira; e “Eu passava o Paraíba / (passava) Numa vagarosa balsa / (passava) Como se dançasse valsa.”

2. Há o emprego de paronomásia ou hiperônimos? Se não houver, desenvolva um parágrafo sobre o que são parônimos e hiperônimos. (De duas a cinco linhas)


Nãopalavras parônimas, portanto nãoparonomásia. Paronomásia é um efeito de musicalidade aplicado ao som das palavras, como por exemplo, “Berro pelo aterro, pelo desterro”, ouMeu amor, que sem humor!!”; O verso mais próximo de uma paronomásia seria “Comunismo nem facismo”. No entanto, este efeito é uma rima interna, um eco. Mas posso considerar como certo, pois a ideia essencial da figura está introjetada.

Podemos considerar que os versosMisto de sabiá e humano / meu vizinho acordava” há relação hiperônímica, pois dentro do campo semântico de “humano” está contida a idéia de “vizinho”. “Humano” é a hiperônimo de “vizinho”; este designamos como hipônimo. Essa figura de linguagem é fundamental para a coesão textual, pois faz a relação de referência entre os versos e o sentido do poema. É um tipo de metonímia.

4. É possível afirmar querelações antitéticas no poema? Justifique. (Cinco linhas)


Sim, há relações antitéticas no poema. Os primeiros quatro versos da

última estrofeHavia erros nos votos / Masa soma estava certa. / Deus escrevia direito / Por pequenas ruas tortassão antíteses que pretendem destacar uma São José, mesmo à época, contraditória moral e politicamente. Na verdade, o segundo e terceiro versos, antitéticos, justificam em Deus um problema político que ocorria no início do século XX: a manipulação dos votos, descritos no primeiro e segundo versos.


5. Faça a escansão da primeira estrofe, compare com as outras, e defina o tipo do poema, segundo a métrica.

E/ra em/ São/ Jo// dos/ Cam/pos.

E/ quan/do/ ca/í/a a/ pon/te

Eu/ pas/sa/va o/ Pa/ra/í/ba

Nu/ma/ va/ga/ro/sa/ bal/sa

Co/mo/ se/ dan/ças/se/ val/sa.

O poema é composto por sete sílabas métricas (ou poéticas) em cada verso, caracterizando o chamado verso redondilho maior. Comparando com as outras estrofes, todos têm a mesma métrica, ou a mesma contagem de sílabas poéticas. Chamados também de versos em Redondilhas Maiores, como as cantigas de roda.



6 Releia a segunda estrofe do poema e faça um levantamento dos ditongos nasais e dígrafos consonantais. Se não houver ditongos ou dígrafos conforme a questão, defina os dois fenômenos. (De três a cinco linhas)

O levantamento dos dígrafos consonantais (os quais definem-se por serem compostos de duas letras grafadas, emitindo apenas um som) é o seguinte: “manhã” /nh/ no segundo verso; no quartocaminho” /nh/ e “que”, /qu/ no sexto verso. Dos ditongos nasais (caso de toda nasalização sobre dois sons (vogal átona e tônica)) são os seguintes: “não” /ão/, “manhã” /an/ e /nhã/; e “São” /ão/.



7. Julgue cada uma das afirmações a seguir, relativas ao discurso proferido por Cassiano Ricardo. Indique, no caderno de respostas, apenas V para as verdadeiras e F para as falsas (atenção: como nem todas são verdadeiras nem falsas, você não poderá indicar apenas V ou apenas F, do contrário sua resposta será anulada).


A ( F ) O acento agudo, também indicador de ditongos abertos em palavras como destrói, anéis, chapéu, não foi utilizado nenhuma vez em todo o texto.

B ( V ) O texto não contém nenhum caso de tritongo.

C ( F ) No último parágrafo, nota-se a presença da conjunção subordinativa integrante, de uma coordenativa aditiva e uma conclusiva.

D ( V ) Na fraseNão serei indiscreto em dizer que se tratava de Teodoro Mascarenhas” temos uma conjunção integrante.

E ( V ) No último parágrafo há uma conjunção subordinativa temporal.

8. Sabemos que as preposições são uma classe gramatical cuja função é conectar palavras e orações reduzidas. Algumas delas comportam-se sempre como preposições; outras, podem se comportar como conjunções, isto é, conectanto orações subordinadas e coordenadas. Os dois tipos são conectivos: apenas mudam sua função do nível morfológico para o sintático. um exemplo de quando essa troca de funções pode ocorrer, indicando o tipo da conjunção. (De três linhas a cinco linhas)

Podemos fazer a preposição “e”, por exemplo, funcionar como conjunção coordenada aditiva. Em “Pedro e Maria são felizes” o “e” tem função de preposição, conectando dois substantivos. em “Pedro é feliz e Maria também o é” o “e” torna-se uma conjunção aditiva, unindo duas orações coordenadas. É possível que uma preposição acompanhe uma conjunção também, formando a locução conjuntiva. “Até que”, “por meio de”, “de forma que”, "Para que" entre outras locuções.

8. (Univ. Fed. Santa Maria – RS) – Assinale a sequência de conjunções que estabelecem, entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido. A seguir, classifique as conjunções escolhindas conforme suas funções nas orações:

a. Correu demais, por isso caiu.

b. Dormiu mal, porque os sonhos não o deixaram em paz.

c. A matéria perece, mas a alma é imortal.

d. Leu o livro, portanto é capaz de descrever as personagens com detalhes.

e. Guarde seus pertences, que podem servir mais tarde.



A ( ) porque, todavia, portanto, logo, entretanto

B (X) por isso, porque, mas, portanto, que

C ( ) logo, porém, pois, porque, mas

D ( ) porém, pois, logo, todavia, porque

E ( ) entretanto, que, porque, pois, portanto

A sequência mais adequada para o uso dos conectivos acima são todas conjunções coordenativas: “por isso” é uma conjunção conclusiva; “porque” é conjunção explicativa; “mas”, conjunção adversativa; “portanto” tem função conclusiva e “que” é uma explicativa.




9. O poema e o texto em prosa, ambos do poeta, crítico e ensaísta joseense, tratam, em um nível mais profundo, de um mesmo tema, embora o que esteja em prosa (o discurso) tenha a função de referir ao poema, contextualizando-o sob certo aspecto. Quais são as diferenças fundamentais entre cada texto?

Sob o ponto de vista da forma, o primeiro trata-se de um poema com métricas regulares; são, inclusive, redondilhos maiores, o que o caracteriza como um poema musicalizado; há rimas e figuras de linguagem, como elipses e hiperônimos.

O segundo é um texto em prosa, com organização de parágrafos e sem preocupação poética. Tem função metalinguística, isto é, um texto que fala sobre outro texto (no caso, um livro, “Martim Cererê” e um poema, “A flauta que me roubaram”). Além disso é umdiscurso”, como a própria questão se refere.

Pelo conteúdo, no discurso de Cassiano Ricardo, há claramente uma intenção textual de se falar sobre as imagens e memórias dos tempos passados de uma “São José dos Campos”; sobre o “contacto” com a natureza e a roça; e que sem essa experiência, como poderia ter pensado emSoldados Verdes” e “Florada”; fala sobre onde o poeta vivia quando menino, seus amigos de escola e infância. Diz sobre a experiência e memória que motivou a criação de seus textos; ou que, pelo menos, o ajudaram a compô-los.

o poema fala da memória sobre uma São José dos Campos longínqua, misturando lembranças de infância e juventude, e utilizando-se de recursos literários para aproximar o conteúdo da forma de expressão: o fato de usar redondilhas maiores aproxima à ideia de um tempo de menino, tempo de cantigas de roda, para resumir. Essa questão é de livre interpretação, mas teria de “rodear”, ao menos, as ideias que expus acima, com um texto apresentável e coeso. Evidentemente não seria necessário escrever muito, mas apenas destacar o que poderia ser importante, fundamental. O mesmo se aplica à questão dez.



10. Discorra, livremente, sobre as semelhanças entre os textos; e faça as devidas citações com uso adequado de aspas.

A ideia fundamental é mais ou menos o que expomos na resposta da nove, mas falando sobre as semelhanças: ambos os textos falam de e sobre São José dos Campos. No poema está bastante caracterizada essa proposta, pois o eu lírico tem a preocupação de expressar essas imagens de infância e adolescência dessa “São José” por meio de uma musicalidade (infantil) que também aparece em cantigas de rodas (típico nas brincadeiras de crianças): os versos redondilhos maiores. “Batatinha quando nasce” e “Vamos todos cirandartambém são redondilhos maiores e entoam as lembranças (musicais) produzidas pelo poema. Todo o poema é uma memória musical, desde a “flauta” do título e dos versos finais até a própria estrutura do poema. O uso dos verbos no passado Imperfeito remetem a um tempo mítico, remoto, mas que está presente na memória. “Era em São José dos Campos”, "era uma vez..."

O texto em prosa fala de como a experiência e mémoria de São José dos Campos interferiram na criação de seus textos. O primeiro parágrafo fala dessa experiência na produção de “Martim Cererê”, obra que o consagra como autor modernista; o segundo, da sua produção poética e, especificamente, da memória no poema “A flauta que me roubaram”. O terceiro parágrafo explica “dois pormenoresque configuram o poema: na primeira estrofe, o fato da ponte cair com certa constância que “o obrigava, menino” a atravessar o rio Paraíba de balsa; e no final da última estrofe, onde ele explica quem tocava a “a flautaque é, enfim, também o título do poema. "A flauta que me roubaram" também pode ser a infância perdida (ou passada) do autor?

Como disse, esta também é uma questão de interpretação, na qual minha preocupação "avaliativa" é sobre a apresentação textual e a organização dos conteúdos expressos, independente de quais sejam, mas que everiam ser, pelo menos aproximadamente, sobre o que referi logo atrás.

Dúvidas dos alunos: as diferenças entre conjuções subordinativas e coordenativas

Queridos,

Alguns alunos mandaram-me e-mail pedindo para que eu dirimisse algumas dúvidas sobre as conjunções coordenativas e subordinativas. Vamos lá, então.

Diferenças entre a concessiva e adversativa

A oração adverbial concessiva e a coordenada adversativa mantêm uma relação de oposição entre duas idéias. Seu uso é próprio da argumentação.

Conjunções e locuções concessivas: embora, apesar de, mesmo que, conquanto, ainda que, se bem que, posto.

Conjunções adversativas: mas , porém, contudo, todavia , entretanto, no entanto. Não existe "no entretanto".

Apesar desta semelhança , apresentam diferença entre si . Usarei um exemplo para explicar:

1) "O trabalho dignifica a pessoa, mas a consome por completo." A conjunção "mas" une duas idéias contrárias. Apresenta uma crítica ao trabalho.

2) "O trabalho consome a pessoa por completo, mas a dignifica." Apresenta uma visão positiva do trabalho.

Se for usada a conjunção concessiva " embora", o período ficaria assim : "Embora o trabalho dignifique a pessoa , ele a consome por completo". A concessiva se prende à idéia menos importante no interior da oposição entre as duas.

Pode-se também inverter: "Embora o trabalho consuma a pessoa por completo, ele a dignifica".

Resumindo: a conjunção adversativa apresenta a idéia mais importante da oposição. A conjunção subordinada concessiva prende-se à idéia menos importante da oposição

Talvez o exemplo abaixo ajude a distinguir a diferença entre as explicativas e as finais:

Diferença entre conjunção subordinada adverbial causal e coordenada explicativa

Diferença entre oração subordinada adverbial causal e coordenada sindética explicativa:

É difícil, às vezes, distinguir uma oração subordinada causal de uma oração coordenada explicativa. Eis alguns artifícios que podem auxiliar na distinção desses dois tipos de oração:

a) Geralmente, a oração que antecede a oração coordenada explicativa tem o verbo no modo imperativo.

"Fiquem quietos, que o professor já vem."

Verbo no imperativo: fiquem.

Oração coordenada sindética explicativa: que o professor já vem.

b) A oração subordinada adverbial causal pode ser colocada no início do período, introduzida pela conjunção como, o que não ocorre com a coordenada sindética explicativa:

"Não vim à aula PORQUE ESTAVA DOENTE."

"COMO ESTAVA DOENTE, não vim à aula."

Tirei os exemplos do site www.portrasdasletras.com.br


Gabarito

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Aqui vai o gabarito, queridos!!


2 - E


3. (FUVEST – SP) – “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração sublinhada pode indicar uma idéia de:

a) concessão

b) oposição

c) condição

d) lugar

e) conseqüência


Resposta: C


A condição necessária para procurar emprego é entrar na faculdade.


4. (Univ. Fed. Santa Maria – RS) – Assinale a seqüência de conjunções que estabelecem, entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.


1. Correu demais, ... caiu.

2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.

3. A matéria perece, ... a alma é imortal.

4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com detalhes.

5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.


a) porque, todavia, portanto, logo, entretanto

b) por isso, porque, mas, portanto, que

c) logo, porém, pois, porque, mas

d) porém, pois, logo, todavia, porque

e) entretanto, que, porque, pois, portanto


Resposta: B


Por isso – conjunção conclusiva.

Porque – conjunção explicativa.

Mas – conjunção adversativa.

Portanto – conjunção conclusiva.

Que – conjunção explicativa.


5. Reúna as três orações em um período composto por coordenação, usando conjunções adequadas.


Os dias já eram quentes.

A água do mar ainda estava fria.

As praias permaneciam desertas.


Os dias já eram quentes, mas a água do mar ainda estava fria, por isso as praias permaneciam desertas.


Correção e Comentário sobre a prova: demorô?

Primeiros!!!

Salve para todos!!


Enfim, retomo as atividades do nosso blog; e vou começar postando o gabarito da prova e comentando-o, claro.

Gente: língua portuguesa, em seu aspecto gramatical, é o conhecimento dos mecanismos da língua que nos permitam comunicar melhor, escrever melhor, falar melhor. Em nosso trabalho, a prioridade é estudar os meios que nos deem um texto que comunique de forma eficiente e que convença, no caso. Todo o tipo de avaliação na escola, pelo menos quando a disciplina exige texto, é de argumentação. Textos de opinião, que defendam pontos de vista. E todos os argumentos devem ter sustentação; senão, serão refutados. Em gramática também é assim.


Mas caminhemos, aos poucos, neste texto.


Análise da prova


Essa prova foi de conhecimento e apresentação textual. E é um dos poucos recursos que tenho para conhecê-los textualmente: esse procedimento é muito importante para mim, pois assim posso orientá-los adequadamente sobre a produção escrita de vocês.

Um aluno ontem me disse que eu não tenho o direito de descontar ponto por causa da letra ou devido a questões de pontuação, acentuação ou organização (gráfica ou não) do texto; que o que importa é o que está escrito.


Caríssimos: posso e vou descontar, porque a leitura do texto produzido por vocês não pode ser um problema para o corretor, e vocês devem acostumar-se a escrever com letra legível. Desculpem-me aos que não têm esse problema, mas precisava avisar o povo. Além disso, talvez eu seja o único professor que possa (oficialmente) descontar nota por causa da letra, porque, em português, não interessa apenas o quê se escreve, mas, principalmente em gramática, o COMO se escreve. É preciso ter consciência de que esta matéria atravessa TODAS as que vocês estudam. Todas, sem exceção. E, mais do que revisar o texto e cobrar o conteúdo, vou cobrar uma boa expressão textual desses conteúdos. É obrigação minha melhorar esse aspecto de/em vocês; é obrigação de vocês esforçarem-se para melhorar a forma e o conteúdo “do texto escrito e faladopor vocês. O que estou fazendo para vocês, agora? escrevendo. E este ato é o que sempre permitirá que eu escreva melhor.

E...responde(am) : Sei me expressar ou não? Claro que sei (e continuarei tentanto). Eu pratico: leio e escrevo.


Este é o recado particular para os que precisam URGENTEMENTE melhorar a letra e para os que querem saber o que penso e sobre meus critérios de correção. Escrevam, quando puderem.


Vamos à famigerada prova.


1) A primeira questão tem objetivo de avaliar a capacidade expressiva do aluno (construção, conectivos, vocabulário, entendimento) e detectar problemas de fundamento na produção escrita. E principalmente: para (eu) saber o que vocês sabem e como usam a língua numa situação dada.

O que poderia ser respondido em a)? Qualquer coisa que variasse entre perceber que as duas leituras se contradizem ou que houvesse um sentido muito estranho, diferente, quando lia-se pela forma tradicional (de cima para baixo) ou por outra forma (de baixo para cima). Considero que as palavras-chaves fundamentais aqui para um desenvolvimento mais aprimorado da leitura-escrita fossem termos como, contradição, inversão de sentido, mudança de sentido, e algumas outras possíveis. E considero que a média de linha escrita de um parágrafo (com base no vestibular) são CINCO. Claro que isso não se aplica para TODAS as respostas, poderiam os apressados pensarem. Bom senso é a recomendação. Esta questão exigia uma MÉDIA de cinco linhas


Para b) respondia-se qualquer coisa, desde que houvesse parágrafo e aspas ou sublinhamento para os títulos. Mas vejam: falo com o pressuposto de que este título esteja dentro da resposta de uma questão. Porque no momento em que vocês porem um "Título" em um texto como numa redação para vestibular, não ponha aspas nem sublinhe. Apenas se você for citar um título. Qualquer citação no texto pode usar. Sacaram a idéia? Demorô.


Avante.


Esses procedimentos básicos, teoricamernte, pertencem ao Ensino Fundamental e queria saber se é um problema ou não. No caso de muitos, foi. Vamos falar disso em sala, sem dúvida.


2) Esta questão foi polêmica. E eu adoro polêmicas. Poléimos, "guerra" em grego.


Outra informação que era importante saber, por meio dessa questão: autonomia dos estudos. Simples: queria saber como estava o aproveitamento dos conteúdos do livro didático, do ponto de vista do estudo individual de cada aluno. “Mas, professor, você não deu isso em sala!!! Organize-se!!”, disse-me uma aluna. Vejamos:


Primeiro, aluno é estudante. E estudante (do particípio presente latino: amante (forçoso ou não) dos estudos) não fica (nem pode ficar) parado, porque o conhecimento não vem ao encontro de vossas dignissímas pessoas. Se não, todos passariam em qualquer vestibular. “A escola orienta o aluno à fonte de conhecimento dentre o mar infinito de informações disponíveis neste mundo moderno, internético". Acabei de inventar essa frase, que resume bem minha função: filtrar as informações principais daquele/sobre determinado conhecimento e explicar-lhes os conceitos fundamentais. A partir disso, vocês devem correr atrás e trazer questões, discordar, propor novos modelos. Ler o livro didático, no mínimo, ou pesquisar na net (no máximo da preguiça) é o básico. O "além disso" é o que garante o vestibular. Quem leu apenas o capítulo dois do livro (da página 20 à 23) responderia a esta questão e à próxima sossegadamente. Diboa mesmo.Vão ao livro e vejam.


Alguém poderia falar que não sabia o significado da palavra “escansão”. Eu, por diversas vezes, repeti este termo em todas as salas (embora não a tenha escrito coloridamente na lousa em todas elas). A questão é que poucos alunos não fizeram a escansão; e destes, muitos fizeram-na de cabeça e responderam que era uma composição de redondilhas menores, resposta da questão b)) Então, o que aconteceu? Na prática, em nossa segunda e terceira semana de curso tratamos do assunto. Inclusive, falamos e escandimos cantigas de roda ou de ninar e, principalmente, analisamos poema do Bandeira que está na página 19. Fizemos a escansão juntos e determinamos que o poema era redondilho menor, conforme está escrito e explicado na página 20 (além da aula). Quem se deu ao trabalho de estudar seriamente, como deve ser a coisa (afinal, o que estamos fazendo na escola também deve ser feito fora dela) não teve nenhum problema com a prova.


Enfim: a)


a/mar/o/ per/di/do (também aceitaria a/ma/ro/per/di/do)

dei/xa/con/fun/di/do

es/te/co/ra/ção


b) Trata-se de um poema composto por redondilhas menores (ou redondilho menor).


Aqui, básico também, deveria ser construída uma respota com, no mínimo, uma frase.Com letra maiúscula e ponto final, diga-se de passagem.


3) Esta questão, inclusive, é argumentativa; por isso pedi que a respondessem com texto. E deveria ser apontado no texto onde ocorriam os fenômenos. Não era reescrever a palavra apenas, como muitos fizeram (aliás, quando fizerem isso, ponham aspas para não haver problema de entendimento!!). Para hiato, aceitei “me-mó-ri-a”, “po-de-ri-a”, “a-in-da”, “de-ma-is”, “di-a” até “co-i-sa”, que a rigor podem ser ditongos, mas pode até haver hiato devido à variações linguísticas regionais. Para ditongo oral decrescente: “tangíveis”, “insensíveis”, “estarei”, ”mais”, “demais”, “foi”, “eu”, “coisas”. Os ditongos crescentes, raros em português, também poderiam não aparecer nos poemas. Mas como temos possibilidades de variações linguísticas aqui também, aceitei as formasmemória”, “ainda” e “poderia” (embora esta última palavra eu tenha restrições quanto a esta "regionalização" (entendem porque uso aspas aqui?); aceitei também respostas do tipo "Não há ditongos crescentes no(s) poema(s)". Dígrafos consonantais: “nh”, “qu” e “ss” são os que aparecem; os encontros consonantais principais são com /gn/, /fr/, /tr/, /nt/ e outros.


4) Questão com bom nível de dificuldade. E duas respostas possíveis, a meu ver. Para uma primeira, o texto tem sentido denotativo, isto é, sentido de literalização das palavras ou dos sentidos figurados. O texto procura denotar o conotativo. Então, predomina o denotativo. Nos dois versos finais, o eu lírico volta a conotar as significações antes literais ou "denotativadas" (outro uso da aspas: neologismos), reatribuindo-lhes os significados comuns, figurativos, ambíguos.


Uma segunda resposta (dois alunos fizeram assim) permitiria que houvesse as duas formas: denotação e conotação. Se o aluno respondesse dentro do campo semântico ao qual o eu lírico se situa, também estaria correta. Entenderam? Quero dizer que se vocês respondessem que havia no poema os dois sentidos e que predominasse a denotação, mas que nos dois versos finais o eu lírico intencionasse a conotação das expressões estaria correta também. Este poema fala da própria linguagem. Se alguém dissesse que era um poema metalingüístico, eu teria uma parada-mental-derrubadora e cairia, assim, blum, no chão, na hora, pá. Cê-liga na idea?


b) Outras situações à qual o autor poderia ter feito referências, seriam: “bico de bule”, “maçã do rosto”, “ de galinha”, “ de cabra” (uso que eu quis saber na prova: dentro de uma resposta), entre muitas outras possibilidades.


5) Alterar uma conjunção adversativa por uma conclusiva faz com que o verso fique incoerente neste caso; muda-se o sentido original do poema. Meus queridos: há lógica e sentido no verso “tem asa, portanto não voa”, não se enganem. É lógico porque isso significa, ou seja, tem significação, qualquer que seja, nem que seja “tem asa, portanto não voa”. Muitas coisas tem asa e não voam. Não é uma questão de lógica, mas de entendimento. E faz sentido, com certeza. Incoerência não é necessariamente uma "contradição"; pode ser um desvio do entendimento comum apenas, mas sempre faz sentido. Vejam: quando as coisas parecerem sem sentido, este é o sentido. Não ter sentido é um sentido. Pensem nisso apenas, sem se preocuparem em discordar ou não. Apenas pensem na possibilidade. Depois discordem ou acordem.


b) Qualquer adversativa substitui o “porém”: “mas”, “todavia”, “contudo” e outras formas. Exemplo: “Tem asa, no entanto não voa, a xícara”.


Adelande, hermanos.


6) Seguindo a ordem do exercício, os conectivos ficam assim dispostos, segundo o original: a) É claro que; b) No momento em que; c) Mas no fundo; d) Enfim e e) Enquanto. A ordem sugerida das frases, também segundo o original (e dezenas de alunos acertaram) é a seguinte: 1- e; 2-c; 3-a; 4-b e 5-d.


Adaptação do original "LAMA, Dalai. Livro da Sabedoria, Martins Fontes, p106.


"Enfim, uma verdadeira amizade se desenvolve a partir do afeto humano, não do dinheiro ou do poder. É claro que, graças ao nosso poder ou fortuna, mais pessoas nos abordam com grandes sorrisos e presentes. Mas, no fundo esses não são verdadeiros amigos; são amigos da nossa fortuna ou do nosso poder. Enquanto perdurar a fortuna, essas pessoas continuarão a abordar-nos com freqüência. Porém, no momento em que nossa sorte diminuir, elas já não estarão mais por perto. Com esse tipo de amigo, ninguém fará um esforço sincero para nos ajudar se precisarmos. Essa é a realidade."


7) Gente, qualquer história que vocês contassem sobre quaisquer das três possibilidades “Vilma e Ângela”, “Gilson” ou “Pedro” estariam corretas desde que, em algum momento, ficasse clara (ou implícita) o uso de uma frase ou locução adversativa. Esse procedimento era o suficiente para "descontradizer" as duas orações adversas, num nível superficial..


8) Sem a necessidade de justificativa (embora uma das questões com grande grau de dificuldade), bastava-se lembrar que a relação antitética se dá no nível das palavras, principalmente. “Dono do sim e do não”. O sujeito suporta as antíteses mas não o paradoxo, como é o caso dos dois versos da questão b): paradoxais. Estas seriam as respostas corretas.Mas construírem a resposta era mais lindo ainda. Ganhou um décimo quem o fez.


9) Questão de pura interpretação e sem a necessidade obrigatória de se prender ao texto fielmente, mas citando superficialmente. A interpretação era chave, o que eu objetivava na avaliação. As palavras chaves para esta questão orbitam o campo semântico das “transformações”, “modificações”, “novas descobertas”; de “interferência” e "intervenção", de “manipulação” e não necessariamente de destruição, desmatamento, poluição dos rios, que são lugares comuns das interpretações do senso geral. Procurem, quando interpretarem textos, posições não comuns, diferenciadas. Evitem falar das coisas como qualquer um falaria. Procure posições e pontos de vista diferentes: "viajem" um pouco.


Idéias que sugerissem que a poesia de Caetano Veloso busca colocar o homem no centro das decisões sobre a vida e de seu próprio destino eram bem recebidas. Também seria interessante especulações sobre a ação do homem frente à sua prórpia arbitrariedade, às transformações (boas ou ruins, não importa) e modificações que suamão” impetra e determina (ou não) sobre a natureza; sobre as reações e contra-ações do homem ao mirar-se quando a olha e quando intervém em seu funcionamento, em nossas vidas. O paradoxal, nestas ideias, é muito latente, pungente. Caetano gosta de colocar "o homem", em suas canções, dentro de situações e sentimentos ambíguos, que causam estranhamentos. Lembrem-se de que neste poema a natureza tem uma realidade um tanto "sagrada", "essencial". Releiam a poesia e escrevam sobre, se quiserem. Seria bom para praticar texto e interpretação.


10) A resposta para esta questão era apenas transcrever os quatro primeiros versos da poesia. Com aspas, por sinal.

Beleza, galera? Cansei e preciso dar um tempo. Não aguento mais "prova".


Fui.

Amanhã estarei no colégio.

Salve para vocês.


Alexandre

Resumo da aula da semana: as famigeradas conjunções coordenativas!!!!

ORAÇÕES COORDENADAS (Sindéticas)

Coordenam-se umas às outras por meio de conectivo, conjunção.

Exemplo:

Olhei e comprei o presente.

Correu demais, por isso caiu.

CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES COORDENADAS

As orações coordenadas (sindéticas) são classificadas de acordo com as conjunções que as unem. Podem ser:

ADITIVAS

ADVERSATIVAS

ALTERNATIVAS

EXPLICATIVAS

CONCLUSIVAS

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ADITIVAS

Expressam idéia de soma, adição. Conjunções: e, nem (e não), mas também, como também.

Exemplo:

Ele não só conhecia a cidade, mas também os melhores pontos turísticos.

Não só estudava como também ensinava.

Telefonou e comunicou sua decisão ao chefe.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ADVERSATIVAS

Expressam idéias contrárias à outra oração. Conjunções: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto.

Exemplo:

A população fez várias passeatas, mas não conseguiu bons resultados.

Viajou para Londres, contudo não esquecia Recife.

O problema era facilmente resolvido, entretanto poucos conseguiram resolvê-lo.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS ALTERNATIVAS

Expressam idéia de exclusão, alternância. Conjunções: ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer.

Ora estudava matemática, ora estudava português.

Procure chegar cedo ou não conseguirá a vaga.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS EXPLICATIVAS

Expressa uma justificativa, explicação, contida na outra oração coordenada. Conjunções: pois (anteposta ao verbo), porque, que visto que.

Exemplo:

Recife está intransitável, pois é repleta de buracos em suas ruas.

Não vou sair à noite, porque vou fazer uma prova importante amanhã.

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS CONCLUSIVAS

Expressa uma idéia de conclusão do fato contido na oração anterior. Conjunções: logo, portanto, pois (colocada após o verbo), assim, por isso.

Exemplos:

Conseguimos bater a meta, portanto podemos comemorar o nosso sucesso.

Acreditamos na igualdade entre os povos; por isso devemos lutar por uma distribuição de renda melhor.


EXERCÍCIOS

1. Relacione as orações coordenadas por meio de conjunções:

a) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram.

b) Não durma sem cobertor. A noite está fria.

c) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.



Respostas:

Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram.

Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.

Quero desculpar-me, mais consigo encontrá-los.


2. (PUC-SP) – Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas...” a partícula como expressa uma idéia de:


a) causa

b) explicação

c) conclusão

d) proporção

e) comparação



POLISSEMIA CONJUNTIVA E A ORAÇÃO COORDENADA

Conjunção pois: pode caracterizar as seguintes orações:

CONCLUSIVA » não inicia a oração, aparece entre vírgulas ou separada da oração por uma vírgula.

Exemplo:

Henrique está louco; devemos, pois, interditá-lo.

EXPLICATIVA » inicia a oração e pode ser substituída pelas conjunções explicativas porque e que.

A conjunção e pode assumir valor adversativo.

Exemplo:

Convidei vários amigos e nenhum veio ao jantar.

(Convidei vários amigos mas nenhum veio ao jantar).


EXERCÍCIOS

3. (FUVEST – SP) – “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração sublinhada pode indicar uma idéia de:


a) concessão

b) oposição

c) condição

d) lugar

e) conseqüência


4. (Univ. Fed. Santa Maria – RS) – Assinale a seqüência de conjunções que estabelecem, entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.


1. Correu demais, ... caiu.

2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.

3. A matéria perece, ... a alma é imortal.

4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com detalhes.

5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.


a) porque, todavia, portanto, logo, entretanto

b) por isso, porque, mas, portanto, que

c) logo, porém, pois, porque, mas

d) porém, pois, logo, todavia, porque

e) entretanto, que, porque, pois, portanto


5. Reúna as três orações em um período composto por coordenação, usando conjunções adequadas.

Os dias já eram quentes.

A água do mar ainda estava fria.

As praias permaneciam desertas.


Resumo da aula

O período composto por coordenação é constituído por orações coordenadas.

ASSINDÉTICAS

Chamamos orações coordenadas assindéticas aquelas que não possuem conjunção.

SINDÉTICAS

As orações coordenadas sindéticas são aquelas que possuem conjunção.

As orações coordenadas sindéticas são classificadas de acordo com as conjunções que as unem. Podem ser:

ADITIVAS

ADVERSATIVAS

ALTERNATIVAS

EXPLICATIVAS

CONCLUSIVAS


ADITIVAS » Expressam idéia de soma, adição. Conjunções: e, nem (e não), mas também, como também.


ADVERSATIVAS » Expressam idéias contrárias à outra oração. Conjunções: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto.


ALTERNATIVAS » Expressam idéia de exclusão, alternância. Conjunções: ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer.


EXPLICATIVAS » Expressam uma justificativa, explicação, contida na outra oração coordenada. Conjunções: pois (anteposta ao verbo), porque, que visto que.


CONCLUSIVAS » Expressam uma idéia de conclusão do fato contido na oração anterior. Conjunções: logo, portanto, pois (colocada após o verbo), assim, por isso.


O gabarito eu publico amanhã, queridos!!

Salve para vocês!!!


Alexandre


Tabacaria - Fernando (em) Pessoa